Um dos grupos sucroalcooleiros mais expostos às queimadas que castigaram a região de Ribeirão Preto no ano passado, a São Martinho mostrou nesta segunda-feira o tamanho do estrago.
Durante uma teleconferência com analistas e investidores para comentar os resultados do terceiro trimestre da safra 2024/25, o diretor financeiro e de relações com investidores, Felipe Vicchiato, disse que as queimadas provocaram um impacto negativo de R$ 350 milhões.
Não é pouca coisa. O montante representa mais de 10% do Ebitda projetado pelos analistas do BTG Pactual para a São Martinho na safra 2024/25, que termina oficialmente em março.
Em resposta a uma pergunta feira durante a teleconferência pelo analista Gustavo Troyano, do Itaú BBA, o diretor financeiro da São Martinho destrinchou o impacto negativo das queimadas, abrindo os custos adicionais e a perda de receita ao vender mais etanol em detrimento do açúcar.
“Em grandes números, foram R$ 350 milhões a menos de lucro”, disse Vicchiato. Desse total, o aumento de custos representa cerca de R$ 100 milhões, envolvendo gastos com trato cultural, replantio e reforço de adubo, além do aumento do uso de insumos industriais.
“Na cana queimada, se não tivéssemos aplicado insumos, a produtividade seria menor ainda do que já foi. Gastamos mais do que o normal para processá-la”, contou o executivo.
Além disso, a São Martinho calcula ter deixado de faturar R$ 250 milhões com as vendas de açúcar.
“Se você olhar no dia 20 de agosto quanto estava o açúcar e qual era o preço do etanol e fizer uma conta rápida, chegará ao montante que deixamos de faturar por causa do incêndio”, disse Vicchiato.
Isso acontece porque o fogo prejudica a qualidade da cana, reduzindo o teor de sacarose na planta e, com isso, inviabilizando a produção de açúcar. Com isso, o grupo teve de produzir mais etanol.
No acumulado da safra até dezembro, a São Martinho reduziu a produção de açúcar em 9,5%, somando 1,3 milhão de toneladas. No mesmo período, a produção de etanol aumentou 8,9%, para 1,1 milhão de metros cúbicos.
Nova safra mais doce para a São Martinho
O alento é que, depois das perdas acumuladas com as queimadas, a São Martinho espera uma safra melhor na temporada 2025/26, já livre dos efeitos causados deletérios causados pelo fogo.
“Fizemos todos os ajustes para estar com o canavial 100% pronto para a próxima safra e estamos animados. Tivemos uma boa quantidade de chuvas, principalmente à noite. Portanto, a questão climática está favorável ao crescimento da cana nas regiões em que estamos.”, sinalizou.
Vicchiato evitou cravar cravou as expectativas da companhia para a moagem na safra 2025/26, mas citou as expectativas da Datagro de 625 milhões de toneladas de cana — 1,8% acima das 614 milhões de toneladas de 2024/25.
“Dado esse cenário e os investimentos em irrigação, estamos com o canavial em ordem para chegar próximo à capacidade total de moagem”, acrescentou o executivo.
Nas estimativas do BTG Pactual, a normalização da produção de açúcar da São Martinho deve trazer o Ebitda da companhia para R$ 4 bilhões na safra 2025/26. Essa estimativa considera que a empresa volte ao patamar de moagem de 23 milhões de toneladas, além de uma contribuição de R$ 290 milhões da planta de etanol de milho ao Ebitda.
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As ações da São Martinho caem perto de 1% no pregão desta segunda-feira. Em doze meses, os papéis caem 14%. A companhia está avaliada em R$ 7,3 bilhões.