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Boa Safra faz fusão em negócio de sementes de cobertura

Sementeira dos irmãos Colpo separa negócio de forrageiras para se unir à SememBras, criando um negócio para disputar um mercado de R$ 6 bi

Marino Colpo comemora follow-on da Boa Safra

Numa aposta na agricultura regenerativa, a Boa Safra acaba de anunciar uma fusão que fortalecerá a sua posição no mercado de sementes de cobertura. A companhia fundada por Marino Colpo terá 30% da SBS Green Seeds, empresa que unirá o braço de forrageiras da Boa Safra com os negócios do empresário Thiago Maschietto, dono da SememBras e da Sementes Nobre.

Na largada, Maschietto — um executivo com ampla experiência no mercado de sementes — terá 70% da nova companhia, mas a companhia dos irmãos Colpo tem a opção de assumir o controle. A empresa aportou R$ 45 milhões na SBS por meio de debêntures conversíveis em ações. Caso opte por convertê-las, aumentaria a sua participação na SBS em mais 30%, elevando a sua fatia para 60%.

“Tínhamos um negócio de forrageiras pequeno, mas que vinha crescendo rápido. Separamos esse negócio para ficar com 30% da nova sociedade”, resumiu Marino Colpo, CEO da Boa Safra, em entrevista ao The AgriBiz.

A sociedade possibilitará à Boa Safra acessar pecuaristas, mas é na agricultura regenerativa onde está a maior possibilidade de crescimento. “Estimamos um mercado potencial de R$ 6 bilhões”, disse Felipe Marques, CFO da Boa Safra.

Hoje, cerca de 20% da área semeada na safra de verão recebe plantas de cobertura na entressafra — percentual que pode chegar a 100%, segundo Marques. Nas palavras dele, esse mercado está mudando “da água para o vinho”, estimulado pela busca crescente dos agricultores por práticas mais sustentáveis, que melhorem a saúde do solo e, no fim do dia, resultem em maior produtividade nos principais cultivos, principalmente soja e milho.

No caso da pecuária, a estimativa é de que renovação do pasto com o plantio de outros tipos de plantas atinja apenas 15% do total, número que também deve aumentar com a crescente intensificação da pecuária. “Vimos estudos de que esse percentual pode chegar a 25% em dez anos”, disse Marino.

Na visão do fundador da Boa Safra, a agricultura regenerativa pode ganhar ainda mais apelo com o desenvolvimento do mercado de créditos de carbono. “No médio prazo, essa cultura vai ter monetização direta por meio da captura de carbono no solo. Acreditamos que dá para capturar muito valor para o cliente e para o acionista”.

Por que um sócio?

Fundada em 2009 com foco em sementes de soja, a Boa Safra, hoje líder nesse mercado com cerca de 8% de market share, vem trabalhando para se diversificar desde o IPO em 2021. Capitalizada, comprou a mineira Bestway Seeds em 2022, adicionando sementes de milho ao seu portfólio, que também conta com trigo, feijão, sorgo e forrageiras — grupo que representa cerca de 7% da receita total da companhia atualmente.

A entrada no mercado de forrageiras aconteceu há cerca de dois anos, por meio de um investimento orgânico. Em 2024, a Boa Safra vendeu 1 mil toneladas de sementes do gênero Brachiaria (considerando os dados até o terceiro trimestre), usado em pastagens.

“Vimos que esse mercado tem um potencial muito grande de crescimento, e ter uma sociedade com algum outro parceiro poderia acelerar”, contou Marques. “Começamos pelo produto que tinha mais demanda, que era a Brachiaria. Mas a agricultura regenerativa exige uma complexidade muito maior. Se continuássemos no caminho solo, ficaríamos restritos”.

Regenera The AgriBiz

Maschietto, que comandará as operações da SBS, traz para a sociedade a fábrica da SememBras em Penápolis, no interior de São Paulo, com capacidade de beneficiamento de 10 mil toneladas de sementes de cobertura e de pasto, além das marcas SememBras e Nobre. “São marcas que existem desde a década de 1960, são muito fortes para o pecuarista”, disse Marques.

Além de estar há mais de uma década na liderança de empresas do segmento, Maschietto traz na bagagem um legado familiar de mais de 60 anos no mercado de sementes. Sob a sua liderança, a SBS pretende expandir a sua atuação, inclusive com investimentos para pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias e parcerias estratégicas.

As unidades de beneficiamento da Boa Safra também poderão tratar as sementes de cobertura, que têm uma janela complementar à da soja. “Com baixo investimento, podemos dar um salto de capacidade”, disse Colpo.

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A adoção de plantas de cobertura — evitando deixar o solo exposto — é uma das principais práticas da agricultura regenerativa. Estudos comprovam que cultivar forrageiras ou milheto na entressafra, por exemplo, possibilitam a regeneração do solo, aumentam a capacidade de armazenamento de água e maximizam o sequestro de carbono no solo, por exemplo.

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Com as ações negociadas sob o ticker SOJA3, a Boa Safra está avaliada em R$ 1,4 bilhão. Em 12 meses, as ações apresentam queda de 28%.