Estratégia

Por dentro da BMG, um emergente de R$ 4 bi na indústria frigorífica

De origem paraguaia, companhia estreou no Brasil há três anos. Agora, começou a investir em governança e relacionamento com o mercado de capitais

BMG Renan Lima
Renan Lima, CEO da BMG, diz que o quarto maior frigorífico do País está ampliando sua capacidade de desossa | Crédito: Divulgação

A aquisição de um pacote de ativos da Marfrig pela Minerva Foods não foi a única transação a mexer com o tabuleiro da indústria frigorífica brasileira. Sem alarde, um grupo de origem paraguaia — e DNA brasileiro — cresceu velozmente com arrendamentos e aquisições, despertando a atenção do mercado.

Em apenas três anos, a BMG Foods desbancou o Frigol da posição de quarta maior indústria de carne bovina do País, atingindo uma capacidade para abater 4 mil animais por dia.

Para se ter uma ideia da dimensão, os três frigoríficos do Frigol têm capacidade para processar 3,3 mil animais diariamente. Listadas na bolsa, as líderes JBS, Minerva e Marfrig têm capacidade para abater 38 mil, 22,3 mil cabeças e 7,5 mil, respectivamente.

No ano passado, o crescimento da BMG atraiu a atenção do vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Geraldo Alckmin, que prestigiou a inauguração do frigorífico da companhia no município de Cacoal, no Estado de Rondônia.

A BMG chegou ao Brasil pelas mãos do Concepción, que é o segundo maior frigorífico do Paraguai e pertence ao brasileiro Jair Lima. Com acesso frequente ao mercado de bonds nos EUA, o grupo paraguaio cresceu tanto no Brasil que o País já se tornou o maior em faturamento. No ano passado, a companhia faturou cerca de US$ 1,7 bilhão (quase R$ 10 bilhões), com aproximadamente 50% disso vindo das operações da BMG.

Em entrevista ao The AgriBiz, o jovem executivo à frente da BMG, Renan Lima, falou dos planos da companhia no Brasil, que vislumbra chegar a 5 mil cabeças de capacidade de abate no médio prazo.

“Agora, estamos investindo na ampliação da capacidade de desossa e congelamento. As plantas de Vila Bela da Santíssima Trindade e Cacoal estão sendo ampliadas para incluir desossa, aumentado a eficiência e rentabilidade”, disse.

A BMG ainda concentra a desossa nas duas plantas que opera no Paraná (localizadas nos municípios de Paiçandu e Colorado), o que não é o mais eficiente logisticamente, sobretudo para os animais abatidos em Rondônia. Por isso, os novos investimentos.

O crescimento no Brasil

Para dar escala ao negócio, a BMG se valeu de uma estratégia comum na indústria frigorífica: o arrendamento de plantas de companhias que estavam em dificuldades financeiras, ficando com uma opção de compra ao final dos contratos (que possuem prazo de duração médio de 10 anos).

Efetivamente, a estreia da BMG no Brasil ocorreu em 2022, quando firmou uma parceria de prestação de serviços com o Distriboi. Pelo acordo, o grupo rondoniense era responsável por abater os animais, mas a compra do gado e a comercialização da carne à companhia liderada por Lima.

A parceria com o Distriboi ajudou a testar o modelo de negócios no Brasil, partindo para a segunda fase, com arrendamentos e aquisições.

Atualmente, a BMG é dona de dois frigoríficos de bovinos no Brasil (Cacoal e Vila Bela) e opera outros três arrendados: Juruena (MT), Paiçandu (PR) e Colorado (PR). A companhia possui ainda contratos de prestação de serviços com duas companhias: Rio Beef, de Rondônia, e Boibrás, de Mato Grosso do Sul.

O portfólio da BMG também inclui carne suína. No Paraná, o grupo é dono de uma unidade em Iporã e mantém um contrato de prestação de serviços com o Frigorífico Catarinense, de Santa Catarina.

Com o crescimento da estrutura e da complexidade das operações, a BMG vem estruturando a governança e se aproximando do mercado de capitais com uma estratégia para ampliar alternativas de financiamento.

Aos poucos, a companhia vem fortalecendo a diretoria no Brasil. Diego Motta, um executivo com experiência em companhias listadas como Unipar, Simpar e Braskem, foi contratado como diretor financeiro e de relações com investidores.

“Começamos a fazer um non-deal roadshow. Estamos na fase de ser mais conhecidos pelas instituições brasileiras”, contou Motta. A expectativa é que, ainda este ano, a companhia consiga azeitar a relação com fundos e banco.

Na BMG, Motta não é a única contratação. Com sede administrativa na Barra Funda, em um prédio ao lado da Marginal Tietê, a companhia trouxe Marco Tempesta, um ex-Marfrig e JBS, como diretor de administração e controle. Paulo Cezar Possamai, que passou oito anos na JBS, assumiu como diretor de custos.

Aprimorar a governança é um passo relevante para as aspirações do grupo, que almeja ficar ainda maior. No passado, a BMG chegou a sondar o Frigol para uma aquisição, mas as conversas não evoluíram. Ainda assim, o recado ficou claro. A BMG quer ser protagonista.