Fertilizantes

A crise da Nutrien passou — nem o Brasil atrapalha mais

Ações da Nutrien sobem 8% no ano e se descolam de rivais; no Brasil, analista do Barclays vê ano "mais neutro" após reestruturação

Mina de potássio da Nutrien na cidade de Rocanville, no Canadá; empresa vê aumento das vendas em 2025 | Crédito: Divulgação
Mina de potássio da Nutrien na cidade de Rocanville, no Canadá; empresa vê aumento das vendas em 2025 | Crédito: Divulgação

O ano de 2025 parece promissor para as empresas produtoras de fertilizantes em meio à perspectiva de preços mais firmes dos grãos e aumento na demanda. Mas as ações da Nutrien têm se destacado em relação aos rivais, apesar de a empresa ainda estar se recuperando de um prejuízo bilionário no Brasil, um dos principais mercados agrícolas do mundo.

Antes do tarifaço de Trump levantar temores de uma desaceleração na economia global, as ações da Nutrien chegaram a acumular uma alta de 20%. O papel cedeu em meio à aversão a risco dos últimos dias, mas ainda sobe 8%, enquanto a Mosaic caiu 6% e o o S&P 500, principal índice de ações dos EUA, cai 1,5%. Listada na Bolsa de Oslo, a norueguesa Yara sobe 3,9% neste ano.

Com ou sem Trump, a gigante canadense vem se descolando das demais em razão das perspectivas mais animadoras para os preços do potássio e ganhos de competitividade na produção de fertilizantes nitrogenados, cuja oferta também está apertada.

“Os fundamentos da Nutrien são um pouco melhores do que os da Mosaic”, resumiu Benjamin Theurer, analista do Barclays, em entrevista ao The AgriBiz.

Embora as tarifas dos EUA possam impactar preços e vendas, a Nutrien espera que suas vendas de potássio aumentem para até 14,4 milhões de toneladas este ano, ante 13,9 milhões em 2024, com preços mais firmes. E a empresa está em uma posição melhor para aproveitar esse cenário.

Se a Mosaic, outra grande produtora de potássio, quiser aumentar sua produção, terá que reativar uma mina ineficiente, segundo Theurer. A Mosaic opera duas minas principais de potássio: Esterhazy, de baixo custo, e Colonsay, que tem custos significativamente mais altos e geralmente fica inativa. Para a Mosaic, a equação entre preços mais altos e custos elevados pode não valer a pena.

Com seis minas no Canadá, a Nutrien é a maior produtora mundial de potássio, detendo cerca de 20% do mercado. Cerca de um terço do Ebitda da empresa no ano passado veio do negócio de potássio. Outro terço veio das operações de nitrogênio, que também têm perspectivas positivas de demanda.

Desempenho das ações de Nutrien, Mosaic e Yara

“O mercado de nitrogênio nos EUA está atualmente apertado, com as importações líquidas caindo 60% na primeira metade do ano agrícola em comparação com a média dos últimos cinco anos”, disse Ken Seitz, CEO da Nutrien, na teleconferência de resultados do quarto trimestre. Enquanto isso, a demanda deve ser forte na primavera devido ao aumento da área projetada de milho nos Estados Unidos, maior exportador mundial do cereal.

Os mercados globais de nitrogênio também têm sido impactados pelos preços do gás natural, que continuam elevados na Europa, impulsionando a competitividade da produção de nitrogênio na América do Norte.

“A Nutrien tem um negócio de nitrogênio muito significativo, que contribui com quase US$ 2 bilhões em Ebitda e se beneficia de uma diferença estrutural no preço do gás”, disse Theurer. O fato de ter fontes mais baratas de gás natural do que a Europa resulta em margens mais altas para os produtores norte-americanos. “Esse é outro fator a favor da Nutrien que a Mosaic não tem.”

A empresa canadense tem um portfólio mais diversificado em comparação com a Mosaic, que não atua no mercado de fertilizantes nitrogenados. A Mosaic é uma grande produtora de fosfato, e os benefícios da alta dos preços já podem ter sido precificados.

Após a valorização das ações de fertilizantes em janeiro, o Barclays rebaixou a Mosaic para “underweight” e a Nutrien para “equal weight”, saindo de “overweight”. Para a Nutrien, o fosfato representa menos de 10% do Ebitda.

No Brasil

Após registrar perdas contábeis de cerca de US$ 1 bilhão no Brasil nos últimos dois anos, a Nutrien deve ter um “ano mais neutro” em suas operações de varejo no País, segundo o analista do Barclays.

A empresa canadense está reduzindo suas operações no Brasil para simplificar e focar seu portfólio, o que inclui uma revisão de ativos. Em 2024, a empresa cortou pessoal, desativou cinco misturadoras (que agora devem ser vendidas) e fechou mais de 50 centros de experiência no país. Enquanto isso, está apostando em produtos próprios, um negócio crescente no Brasil que ajudou a melhorar as margens.

“Nosso plano de melhoria no Brasil está começando a mostrar resultados encorajadores, e seguimos focados em iniciativas que melhorem o fluxo de caixa do negócio”, disse Seitz durante o call no final de fevereiro. “Não é necessariamente verdade que o mercado está evoluindo da maneira que a indústria esperava—e as altas taxas de juros ainda representam um desafio para o setor agrícola brasileiro. Mas já estamos vendo sinais positivos.”

O CEO também destacou que a empresa inicia 2025 em uma posição melhor no que se refere à gestão de estoques de defensivos agrícolas, reduzindo riscos operacionais. Os estoques da Nutrien no Brasil estão 46% menores em comparação com o mesmo período do ano passado, segundo Jeff Tarsi, vice-presidente sênior da unidade de varejo da Nutrien.

Embora o ambiente no Brasil ainda seja desafiador para a Nutrien, a empresa parece ter superado o pior. O desempenho recente das ações sinaliza que os investidores não estão preocupados, dado o peso relativamente pequeno das operações brasileiras nos resultados consolidados. No ano passado, a receita da empresa no Brasil totalizou US$ 855 milhões, correspondendo a apenas 3% do faturamento total de US$ 26 bilhões.

O Ebitda do negócio de varejo da Nutrien, que somou US$ 1,7 bilhão, teria sido cerca de US$ 100 milhões maior se o Brasil não tivesse impactado negativamente, segundo o analista do Barclays. “O Brasil representa cerca de 5% ou 6% do Ebitda do varejo. Então, o Brasil importa dentro desse segmento, mas no contexto geral, é menos de 2%,” disse.

O analista afirmou que os problemas da Nutrien no Brasil provavelmente já foram precificados nas ações, e “o risco de queda agora é mais limitado”, após a reestruturação da operação no País. Ao mesmo tempo, manter alguma presença aqui é estratégico, dada a enorme demanda brasileira por insumos agrícolas.

“Sejamos honestos, o Brasil é uma potência agrícola. Você precisa do Brasil, mas é um mercado difícil de operar. Algumas empresas pensaram: ‘Somos tão bons na Austrália, Canadá e EUA… Podemos fazer isso em qualquer lugar.’ Infelizmente, o Brasil é um lugar complicado para atuar. Mas, uma vez que você descobre como funciona, tudo bem. O desafio é entender como operar”, afirmou Theurer.

***

Os assinantes do Weekly, a newsletter semanal de The AgriBiz em inglês, receberam essa matéria em primeira mão. Para se inscrever, clique aqui.