Commodities

Por que os fundos especulativos estão apostando na queda do açúcar

Fundos especulativos aumentaram posições vendidas na Bolsa de Nova York diante da perspectiva de aumento da oferta de açúcar no Brasil, Índia e Tailândia

Açúcar usinas

Nas usinas brasileiras, a vantagem de exportar açúcar em detrimento da venda de etanol — traduzida na diferença de preços entre ambos (ou spread) — está mais apertada, reforçando o cenário baixista dos fundos para os preços do adoçante na bolsa de Nova York.  

A expectativa de uma relação entre oferta e demanda mais equilibrada para o açúcar, somada ao consumo resiliente de etanol hidratado, fez com que a diferença entre os preços de ambos ficasse em 458 pontos-base ontem (11), ante 815 pontos-base há um ano.

Os números foram apresentados por Bruno Wanderley, analista da Datagro, em evento realizado nesta quarta-feira pela consultoria em Ribeirão Preto (SP). 

É difícil prever como essa diferença vai se comportar nos próximos meses, mas é certo que os fundos de investimento, fundamentais na formação dos preços do açúcar na Bolsa de Nova York, estão mais pessimistas em relação à commodity, destacou Wanderley. 

Considerando uma cesta de commodities, os fundos de investimento elevaram a posição vendida líquida na Bolsa de Nova York para 325 mil lotes em 4 de março, a maior desde setembro. O comportamento reflete pelo menos três fatores: guerra comercial, incerteza geopolítica e receio de recessão nos Estados Unidos.

Só no açúcar, as posições vendidas aumentaram para pouco mais de 79 mil lotes, adicionando quase 26 mil lotes entre 25 de fevereiro e 4 de março, segundo a Archer Consulting. Esse movimento reflete também uma melhora nas expectativas para o balanço de oferta e demanda. A Datagro, por exemplo, estima que o superávit global de açúcar pode chegar a 3 milhões de toneladas na próxima safra.

“Inicialmente, se falava em falta de açúcar e estoques muito apertados. Mas o mercado mostrou em março que, quem procura, acha. Foi um choque de realidade. Não que houvesse uma situação de oversupply, mas digamos que tinha açúcar embaixo do tapete. O mercado tem encontrado um ponto de equilíbrio”, ressaltou Wanderley.

No Brasil, a estimativa da consultoria para a safra 2025/26 — mesmo com o rescaldo dos efeitos dos incêndios — é de uma produção de 42,3 milhões de toneladas de açúcar, aumento de 6% em relação à safra anterior e praticamente o mesmo patamar da safra 2023/24 (42,4 milhões de toneladas).

Índia e Tailândia

Outros importantes fornecedores de açúcar também tiveram um ajuste para cima nas projeções de oferta. É o caso da Índia, que deve produzir 26,5 milhões de toneladas na safra 2024/25 e pode chegar a 31,5 milhões de toneladas, segundo a Datagro.

“Os preços vêm vigorando em patamares atrativos, com usinas pagando fornecedores de cana sem atraso e, devido às boas condições de 2024, fazendeiros começaram a expandir plantio de cana para safra 2025/26”, afirmou Wanderley. 

Na Tailândia, um cenário similar. O país deve produzir 10,5 milhões de toneladas na safra 2024/25, mas também deve aumentar a área na safra seguinte. Culturas que eram mais competitivas, como a mandioca e o milho, desabaram, encorajando agricultores a produzir cana.

O preço precisa subir

Com as expectativas de queda nos preços futuros do açúcar — levando contratos de outubro de 2027 ao patamar de 17,7 centavos de dólar por libra-peso — a competitividade brasileira exerce um papel fundamental.

O custo para produção de açúcar no País ainda é o mais baixo entre os seis principais produtores, em 15,44 centavos de dólar por libra-peso, ante 22,4 centavos na Índia e 21,53 na Tailândia. 

“Até quando esses países vão conseguir ter fôlego para expandir o plantio de cana?”, questionou Wanderley. Considerando o atual patamar de preços da commodity, o superávit de açúcar pode ser momentâneo, ponderou.

Com a demanda por açúcar crescendo de 1,8 milhão a 2 milhões de toneladas por ano, o preço da commodity, ao longo do tempo, deve sustentar o aumento na capacidade de cristalização. Nas contas da Datagro, para ser atrativo, um novo projeto no Brasil deve custar de 23 a 25 centavos de dólar por libra-peso, dependendo da microrregião. 

“Se não chegar a um nível suficiente, haverá déficit de produção e o preço terá de subir de forma consistente durante um longo período para que haja investimento capaz de cobrir o aumento anual de demanda”, frisou Plínio Nastari, presidente da Datagro.