Inflação

A carne brasileira já é a mais barata do mundo. Isenção de tarifa é inócua

O brasileiro come menos carne do que gostaria porque seu poder de compra relativo à cesta básica está entre os mais baixos do mundo

Picanha

O Brasil é o segundo maior produtor de carne bovina do mundo, o maior exportador e, em 2024, importou apenas 0,5% daquilo que passou internamente pelo nosso mercado.

Do volume importado, menos de 1%, 96% vem do próprio Mercosul, sendo o Paraguai, o Uruguai e a Argentina os maiores fornecedores. O restante fica a cargo da carne australiana e um 0,02% é carne de wagyu importado diretamente do Japão, a “carne chique”.

Em sua maior parte, a carne importada que entra no Brasil é tida como de qualidade premium, fruto da importação estimulada pela população de alta renda que busca experiências gastronômicas através de cortes como a entraña utuguaia ou o chorizo argentino. Prova disso é que o preço da tonelada importada pelo Brasil é 65% mais alto do que a carne que exportamos.

Essa carne importada também é 136% mais cara do que a média paga no atacado doméstico.

Um fato importante é que o Brasil já possui um acordo de livre comércio que leva à isenção de taxas para a comercialização que ocorre dentro dos países que compõem o Mercosul. Isso indica que as negociações com o bloco, que são a maior parte do que importamos, já são isentas de tarifas de importação pelo próprio acordo.

Considerando que o Brasil possui a arroba mais barata do mundo e que vende, em uma média ponderada pelo volume dos principais exportadores globais, 14% abaixo dos concorrentes, fica claro que somos autossuficientes na produção e abastecimento de carne bovina, gerando inclusive o enorme excedente que é enviado ao mercado internacional.

O Brasil, portanto, possui um grave problema de renda, não de produção.

A cesta básica brasileira em dólares é a vigésima segunda mais barata do mundo, mas o número de cestas básicas que o brasileiro compra com o salário mínimo é o quinquagésimo segundo lugar dentre sessenta e cinco economias analisadas.

Definitivamente, a carne brasileira não é cara. O brasileiro come menos carne do que gostaria porque seu poder de compra relativo à cesta básica está entre os mais baixos do mundo e porque a inflação o reduz ainda mais. E as exportações cumprem um importante papel na hora de remunerar o produtor quando a produção sobra para que ele possa continuar investindo.

É excelente a que se busque reduzir a pressão dos impostos sobre o preço do que consumimos, mas muito provavelmente a isenção da importação de produtos cuja produção global dominamos não será o caminho. Um caminho seria repensar os impostos de importação sobre insumos básicos à produção, como fertilizantes, adubos, maquinário e tecnologia, mas o Brasil considerou aumentar as alíquotas no final de 2024, o que traz impactos ao custo produtivo que são repassados ao consumidor.

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Lygia Pimentel, colunista de The AgriBiz, é médica veterinária, economista e fundadora da Agrifatto.