
Enfim, o alívio. Depois da demora para assumir os frigoríficos adquiridos da Marfrig, a Minerva Foods começou a mostrar sinais promissores da integração dos ativos, animando os investidores.
Nesta quinta-feira, as ações da maior exportadora de carne bovina da América do Sul dispararam. Às 11h55, os papéis da Minerva (BEEF3) subiam mais de 10%, liderando o Ibovespa.
Em teleconferência nesta manhã, o diretor financeiro da Minerva, Edison Ticle, disse que a rentabilidade dos novos frigoríficos está “até melhor” do que se esperava inicialmente.
“É uma ótima notícia. Em mais dois ou três trimestres, os ativos devem operar no nível de excelência do restante”, afirmou. Nas contas dele, a margem Ebitda dos frigoríficos adquiridos da Marfrig está quatro pontos percentuais abaixo do usual na Minerva, uma diferença capaz de ser tirada e exigindo pouco capital de giro.
Parte dessa distância ainda reflete a baixa utilização de capacidade dos novos ativos, algo que vem melhorando, segundo Ticle. No quarto trimestre, os frigoríficos que eram da Marfrig apresentam uma utilização média entre 45% e 50%, contra uma média acima de 70% na Minerva.
“Hoje, as plantas estão operando entre 65% e 70%”, indicou o diretor financeiro da Minerva. A conta, no entanto, não inclui um frigorífico em Mato Grosso que também foi adquirido da Marfrig, mas segue fechado. “Essa planta foi recebida em condições operacionais não condizentes. Vai levar algum tempo ainda para essa planta reabrir”, admitiu Ticle.
Analistas que cobrem a Minerva gostaram do que ouviram, assim como dos resultados operacionais do quarto trimestre, divulgados ontem à noite.
“Os dados iniciais sobre os ativos adquiridos sugerem que as margens de contribuição não são tão ruins quanto alguns investidores temiam. No entanto, ainda há uma jornada considerável pela frente”, escreveu Thiago Duarte, do BTG Pactual, lembrando da necessária redução do endividamento.
Aos analistas, Ticle apresentou uma perspectiva favorável para a desalavancagem da companhia, prioridade absoluta na Minerva após desembolsar R$ 7,2 bilhões na aquisição dos frigoríficos da Marfrig — ainda há uma conta de pelo menos R$ 675 milhões a ser paga quando o órgão antitruste do Uruguai aprovar a aquisições dos ativos no país sul-americano.
Em resposta ao analista Lucas Mussi, do Morgan Stanley, o diretor financeiro da Minerva abriu as projeções orçamentárias para o ano, com números que surpreenderam positivamente.
A companhia da família Vilela de Queiroz acredita que será capaz de gerar mais R$ 1 bilhão em caixa livre em 2025. “Algo entre R$ 1 bilhão em R$ 2 bilhões, em condições normais de temperatura e pressão”, detalhou Ticle, ponderando não se tratar de um guidance formal.
É um montante relevante, acima do que o consenso esperava. Nas estimativas da equipe de analistas liderada por Leonardo Alencar, da XP Investimentos, o fluxo de caixa livre da Minerva ficaria em R$ 549 milhões em 2025.
A ajuda do capital de giro
A gestão de capital de giro também também deu uma bela contribuição. Apesar da necessidade de recursos tocar para as novas plantas, a Minerva conseguiu liberar capital de giro no quarto trimestre graças às linhas de risco sacado (R$ 477 milhões) e especialmente ao adiantamento de clientes (R$ 1,4 bilhão).
Os números de adiantamento de clientes chamaram atenção, por destoarem da dinâmica dos concorrentes. No ano passado, os adiantamentos mudaram de patamar na Minerva, saindo de apenas R$ 1,6 bilhão em 2023 para quase R$ 4,3 bilhões.
Na teleconferência, Ticle explicou que o nível de adiantamento exigido de cada cliente é definido a política de crédito da Minerva. Atualmente, o aumento do volume de exportação de carne bovina para países como México, Egito, Argélia, China contribuem com os adiantamentos. Em alguns países mais arriscados do Oriente Médio, a Minerva exige não só o adiantamento, mas o pagamento antecipado.
Se conseguir manter a eficiência de capital de giro e bater a geração de caixa sinalizada aos investidores, a Minerva vai conseguir desalavancar em uma velocidade mais rápida. Em dezembro, o índice de alavancagem (relação entre dívida líquida e Ebitda) estava em 5 vezes, ou 3,7 vezes considerando os resultados proforma dos frigoríficos recém-aquiridos.
Para a Minerva, desalavancar será fator crucial para que a companhia consiga recuperar o valor de mercado.
Desde que anunciou o M&A com a Marfrig, em agosto de 2023, as ações da Minerva caíram mais de 43%. Parte do mercado questionou o preço pago pelos ativos, e outra parcela temeu pela demora — que encareceu a aquisição por causa da correção pelo CDI.
Em relatório, o analista do BTG lembrou que o tamanho da dívida pesa sobre o valuation da Minerva. Atualmente, a dívida responde por mais de 80% do valor de firma ou EV (sigla em inglês para Enterprise Value), com o equity ficando com menos de 20%. Isso significa que, se conseguir reduzir a dívida, as ações da companhia se valorizariam razoavelmente mesmo com o mesmo múltiplo (EV/Ebitda) de 5 vezes.
Há tempos, Ticle vem argumentando que as reações dos investidores e analistas ao deal com a Marfrig foram exageradas. Neste quinta-feira, por exemplo, usou a geração de caixa para ressaltar sua posição.
“Ou a companhia está gerando caixa demais, ou valor de mercado está baixo demais”, disse ele, citando a relação entre o fluxo de caixa livre e o valor de mercado (85%).
Com os novos ativos em operação, Ticle terá a chance de mostrar que estava certo. Os investidores deram um voto de confiança.
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Na B3, a Minerva está avaliada em R$ 3,9 bilhões.