CRA

Atrasado, novo fundo da Agrogalaxy expõe dúvidas dos credores

Em janeiro, o CEO rede de revendas chegou a dizer que os recursos do FIDC dos créditos inadimplidos entrariam ainda no primeiro trimestre, previsão que será frustrada

Agrogalaxy

A alternativa da Agrogalaxy para levantar recursos com a venda de uma carteira de R$ 700 milhões em créditos de clientes inadimplentes está mais lenta do que os principais executivos da companhia esperavam.

Em 20 de janeiro, o CEO da Agrogalaxy, Eron Martins, chegou a dizer que os recursos do FIDC dos créditos inadimplidos entrariam ainda no primeiro trimestre, uma previsão que será frustrada.

A rede de revendas controlada pelo Aqua Capital chegou a assinar um memorando de entendimentos com a gestora Jive, com o objetivo de levantar recursos para o FIDC, mas a complexidade jurídica para operacionalizar o fundo se mostrou maior do que muitos imaginavam.

As negociações contam com o apoio de firmas como XP Asset, JGP, Capitânia e Kijani. Credoras dos CRAs da Agrogalaxy, essas gestoras aportariam recursos no FIDC em troca de uma condição mais benéfica na recuperação judicial, passando a figurar como credores colaboradores.

Até agora, no entanto, os credores sequer conseguiram realizar a assembleia entre os detentores dos CRAs — o que envolve um grupo maior do que as gestoras que participam das conversas envolvendo o FIDC.

Na última segunda-feira, por exemplo, a assembleia de credores do CRA que discutiria a definição de um rito para a adesão ao FIDC foi adiada, pela terceira vez. Uma nova convocação foi feita para sexta-feira, mas ainda não há uma certeza de que a reunião vai de fato ocorrer.

A aprovação dos detentores de CRAs, vale lembrar, ainda não sacramenta o FIDC. Ela é apenas um dos passos. A partir daí, os investidores dos CRAs emitidos pela securitizadora Vert teriam a oportunidade de avaliar se desejam ou não investir no veículo.

Enquanto isso não ocorre, investidores dos CRAs que não fazem parte do grupo de gestoras que está engajado na construção do FIDC vêm se queixando da assimetria de informação.

As queixas, feitas por fontes que pediram reserva, partem de gestores de fundos de crédito e family offices que mantêm os papéis da Agrogalaxy no portfólio. Para essas pessoas, as informações ainda estão muito desencontradas, e o tempo para analisar as alternativa do FIDC será exíguo.

“Como alguém vai analisar tudo em 48 horas? As outras gestoras já vêm discutindo isso há meses”, criticou uma das fontes. Os investidores também relatam dúvidas com o dia seguinte à criação do FIDC. Afinal, o que acontecerá com os credores que não quiserem seguir com a injeção de capital da companhia? 

Especialistas ouvidos por The AgriBiz avaliam como menos provável a cisão de um CRA em dois diferentes — um para quem quer aderir ao FIDC e outro para quem não quer —, mas algumas recuperações judiciais recentes podem ajudar a indicar um caminho.

Nas recuperações judiciais de Light e Americanas, por exemplo, os credores de títulos securitizados (com um mesmo lastro, como é o caso dos CRAs da Agrogalaxy) tiveram a possibilidade de serem tratados de acordo com o tamanho individual de suas dívidas, em vez de serem considerados a partir de um único devedor — no caso, a securitizadora. 

Na varejista, a situação aconteceu com os títulos do Natural da Terra — varejista de alimentos controlada pela Americanas. Na proposta final, credores receberam debêntures e puderam aderir a uma opção de recebimento de até R$ 12 mil à vista, respeitando determinados limites impostos no plano de recuperação judicial.

 “Se vai ter um benefício para quem aderir ao FIDC, uma alternativa também teria de ser oferecida aos demais”, sugeriu um credor.

As pistas até o momento

A nova versão do plano de recuperação judicial da Agrogalaxy, protocolado no dia 21 de março, dá uma leve indicação sobre o caminho a ser seguido. Nele, a companhia expõe a proposta de substituição dos papéis do CRA por debêntures, divididas em duas séries.

Na primeira série, ficam credores que vão receber conforme o plano de RJ propõe – deságio de 85% e pagamento em 16 anos.

Na segunda série, ficam os credores que vão entrar no FIDC, que terão uma condição alternativa de pagamento — cujos títulos serão usados para integralizar as cotas do veículo, que vai adquirir a carteira de vencidos da Agrogalaxy.

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Paralelamente às negociações para a injeção de liquidez por meio do FIDC, a Agrogalaxy mantém as negociações do plano de recuperação judicial.

A assembleia de credores que vai votar o plano está convocada para esta sexta-feira (28).