
A alta produtividade da soja vai trazer um respiro aos produtores do Cerrado — mas não será capaz de compensar, sozinha, todos os obstáculos daqui para frente. A avaliação é de André Pessôa, CEO da Agroconsult, que estima a safra 2024/25 em 172,1 milhões de toneladas em todo o País.
A colheita é mais próspera na região. “Estamos vendo produtores [no Cerrado] colhendo de 6 a 8 sacos por hectare a mais do que tinham estimado. Quem tinha planejado colher 65 está colhendo de 70 a 75 sacos. Isso gera uma injeção de liquidez na agricultura brasileira muito importante”, afirmou André Debastiani, sócio da Agroconsult, a jornalistas nesta quinta-feira.
Em média, a produtividade da soja ficou em 60 sacas por hectare, acima das 55,4 sacas da safra anterior e no mesmo patamar da temporada 2022/23. As 10 milhões de toneladas produzidas a mais do que o recorde anterior (162 milhões de toneladas em 2022/23, nas contas da Agroconsult) refletem basicamente a expansão de área, que se aproximou dos 48 milhões de hectares. Produtividades frustrantes no Rio Grande do Sul e no Mato Grosso do Sul impediram um novo recorde nos rendimentos.
Outra boa notícia para o sojicultor é o preço de venda da safra 2024/25 — favorecido pelo câmbio, o preço da soja em reais também está acima do que o esperado no início do ano, lembrou Pessôa.
Com mais soja por hectare a um preço melhor, o produtor do Cerrado ganhou mais liquidez — e um sutil alívio no fluxo de caixa — entrando na safrinha em uma posição mais favorável do que se imaginava. “É um alívio numa situação ainda muito apertada”, resumiu Pessôa.
A principal incerteza vem de um cenário um pouco mais adiante: o crédito na safra 2025/26. “Em janeiro, nossa preocupação era de que os problemas da safra anterior se somassem aos de 2024/25. Agora, ainda resta saber como vai ficar a disponibilidade de crédito para 2025/26, dado o alto custo de capital”, explicou Pessôa.
Com a Selic se aproximando de 15% ao ano, as taxas praticadas no mercado estão partindo de 18%, um patamar alto para a rolagem de dívidas, especialmente considerando as margens ainda apertadas dos produtores.
“Esse é o problema. Margem apertada e custo caro. Nessa combinação, o risco sobe e pode levar a uma revisão dos patamares de crédito, especialmente nas regiões que têm muitos arrendatários ou que foram afetadas por questões climáticas”, afirmou o CEO, citando os desafios do governo federal para equalizar o próximo Plano Safra.
Safrinha
A Agroconsult também apresentou algumas perspectivas da consultoria para a safrinha de milho — apesar de os dados mais precisos serem apresentados somente daqui a 30 dias. Nas contas da consultoria, a safrinha pode chegar a 109,6 milhões de toneladas neste ano, refletindo o crescimento da área, de 6%, sem prejuízo do uso de tecnologia.
“O quadro do milho é bem positivo. A safra americana foi um pouco menor, tem a situação da Ucrânia na guerra ainda e, na Argentina, também houve um pouco de adversidade, não vai ser maior do que no ano passado”, explicou Pessôa. “Se tiver algum revés climático, o cenário deve permanecer positivo no segundo semestre, sem que isso signifique um problema grave para o consumidor doméstico”, completou.
O preço do milho, em torno de US$ 5 por bushel, representa um patamar sustentável para o Brasil — e principalmente para os Estados Unidos. No mercado doméstico, os R$ 40 por saca, que foram o teto do ano passado, são o piso deste ano.
No Mato Grosso, a saca chegou ao patamar de R$ 70 nesta entressafra, um preço que não se via desde 2022. “Na safrinha, a perspectiva é de preços R$ 10 acima do ano passado, e esse foi o principal motivo que fez a área crescer”, disse o CEO.
Mesmo assim, o ritmo de comercialização do produtor não mexeu o ponteiro em relação à média dos últimos anos. Segundo a Agroconsult, o percentual atual é de 27%, em linha com anos anteriores, o que representa um risco ao agricultor. Se o clima ajudar e a safra for cheia, os preços podem cair.