SOROCABA (SP) — Tratores, pulverizadores, colheitadeiras. A história da Case IH foi construída até aqui com base nesses veículos — mas, sozinhos, não serão suficientes para levar a companhia adiante. No agro do futuro, a companhia deixa de ser uma fornecedora de equipamentos para se tornar uma one stop shop para um produtor rural cada vez mais conectado.
É com base nesse racional que a fabricante vai levar para a Agrishow seus modelos inaugurais de drones para o campo, feitos em parceria com a chinesa XAG. As aeronaves já tinham sido apresentadas em 2024, mas começarão a ser vendidas efetivamente neste ano. A expectativa é que, até dezembro, 500 unidades sejam compradas pelo público.
“Nosso foco é ter opções para o cliente de diferentes usos de tecnologia no que mais se encaixa no perfil produtivo dele, no tamanho da fazenda e no bolso. Temos uma mentalidade de ecossistema. Não podemos chegar e oferecer apenas um equipamento, como fazíamos dez anos atrás”, disse Christian Gonzalez, vice-presidente da Case IH para a América Latina, em evento promovido pela empresa nesta segunda-feira.
A companhia vai trazer para a feira de Ribeirão Preto (SP) dois modelos de aeronaves não tripuladas: a P60 e a P150, sendo este último o maior drone de pulverização disponível no mercado, com capacidade de 70 litros e autonomia para trabalhar em até cinco hectares.

A ideia é que os drones possam funcionar como um complemento à pulverização tradicional, chegando em territórios, por exemplo, em que os equipamentos tradicionais não chegam — pulverizar uma plantação de uvas em Caixas do Sul, por exemplo, ou uma lavoura de café, em Minas Gerais.
O foco não é a substituição completa do pulverizador tradicional, mas um uso conjugado entre ambas as soluções, acrescido, ainda, dos softwares da Case IH, como o FieldXplorer — um produto de gerenciamento de lavoura que usa inteligência artificial, a bola da vez nos discursos de marketing do setor.
“O drone tem um apelo de sustentabilidade, já que usa um sétimo do combustível que um pulverizador tradicional usaria, ao mesmo tempo em que tem uma velocidade muito menor, cobrindo algo em torno de 20 a 30 hectares por hora, enquanto um pulverizador tradicional faz de 120 a 150 hectares por hora”, explica Gregory Riordan, diretor de Tecnologias Digitais e Inovação da CNH Industrial, dona da marca Case, para América Latina.
O foco é chegar ao produtor que tem apetite para tecnologia, mais do que cravar um tamanho específico de propriedade para quem esse tipo de solução vale a pena. Em uma época de produtores mais cautelosos e de juros altos, os drones chegam ao mercado por valores que variam entre R$ 160 mil a R$ 300 mil.
Um ponto que colabora para as vendas é o fato de que os equipamentos podem ser adquiridos por meio do Pronaf (Programa de Fortalecimento da Agricultura Familiar). A fabricante também está trabalhando, atualmente, para que recursos do Finame 4.0 também possam ser usados para a compra das aeronaves.
Financiamento
No esforço de vender — os drones e as soluções tradicionais da companhia — em um ano marcado por juros altos, a Case IH aposta nos financiamentos em dólar, assim como a rival John Deere.
A empresa também pleiteia o uso de recursos do Fiagro lançado pelo governo do Paraná. “Temos uma oportunidade a explorar, oferecendo aos clientes uma condição de pagamento mais atrativa”, explicou Denny Perez, diretor comercial da Case IH.
Dentro de casa, a empresa também vê crescer, ano após ano, o volume de consórcios na sua carteira. Administrada pela Primo Rossi, essa alternativa de financiamento tem alcançado um público cada vez maior.
Hoje, colheitadeiras de R$ 2 milhões a R$ 4 milhões, além de tratores, são vendidos pelo consórcio, contrariando o senso comum de que esse tipo de solução seria adotada principalmente pelos pequenos produtores.
A Case IH aumentou, no ano passado, a receita de consórcios em 15% na comparação com o ano anterior e, neste início de ano, deve continuar em alta. No ano passado, 6% a 7% das vendas da Case IH vieram do consórcio, percentual que deve chegar a 10% em 2025. A companhia não divulga os números absolutos.
“Hoje, se você pensar em termos de custo, você paga uma taxa de administração que seja de 14% a 15%, dividida em cinco anos, dá 3%, no máximo 4% ao ano”, explica Denny Perez, diretor comercial da Case IH.
Apesar de a taxa ficar mais competitiva, o maior desafio segue sendo o planejamento do produtor rural. “O desembolso que ele faz hoje, com juros, numa linha de financiamento é 10%, 15% ou 20% ao ano. No consórcio, para ele ser contemplado no primeiro ano, ele vai ter que desembolsar entre 40% e 50% da cota. São valores altos também”, frisa Perez.
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Além dos lançamentos de drones, a companhia também vai apresentar ao mercado a maior colheitadeira do mundo, a AF10, fabricada nos Estados Unidos — um dos raros produtos importados a serem comercializados no catálogo de lançamentos da companhia.
Em relação à guerra tarifária colocada pelo presidente dos EUA, Donald Trump, a Case IH diz que que ainda é muito cedo para analisar impactos. “Já passamos por uma pandemia, as piores decisões tomadas foram precipitadas e com pouca informação. Não vamos parar de exportar. Agora é o momento de observar”, ressaltou Gonzalez.
(A jornalista viajou a convite da Case IH)