
Um dos dez maiores criadores de frango do mundo, o Paraná, que lidera a produção nacional, ganhou um empurrãozinho para aumentar seu protagonismo no cenário global. Com o novo Fiagro estatal, o estado pode promover a construção de 600 aviários — número de galpões necessário para acabar com a capacidade ociosa das indústrias ali instaladas.
Com esse montante preenchido, o Paraná pode ficar maior do que a Argentina e a Turquia na produção da proteína, ocupando a oitava posição no ranking mundial.
As contas são da Agroforte, fintech focada no mercado de proteína animal. Especializada em crédito B2B2C — num modelo que envolve o relacionamento com a indústria para chegar, por meio dela, aos produtores rurais — a empresa cultivou ao longo dos últimos anos um relacionamento estreito com players importantes desse mercado, como Seara (empresa controlada pela JBS), Pluma Agroavícola, C. Vale e Avinorte.
É desse relacionamento estreito que vem a estimativa de uma demanda de pelo menos 600 aviários por parte da indústria, chegando, no limite, a 1.000 novos galpões.
Considerando o mínimo de 600 aviários, a produção de frango no Paraná subiria 14%. Hoje, o Paraná responde por mais de um terço da produção brasileira (que totaliza 15 milhões de toneladas).
O frango e o financiamento de longo prazo
Construir toda essa capacidade significa uma necessidade de dinheiro de longo prazo, a um custo competitivo — uma barreira crescente para os produtores. “Esse dinheiro vinha principalmente de financiamento público, que foi secando ao longo do tempo. Agora, o Fiagro do estado pode suprir essa lacuna”, explica Felipe D’Ávila, CEO e cofundador da Agroforte.
Dentro do modelo criado pelo estado, será possível estruturar financiamentos de dez anos, com uma carência de pelo menos um ano e meio. Os juros na ponta ficarão abaixo dos de mercado, graças à estrutura que mistura recursos do governo a crédito privado — principalmente permitindo que empresas usem créditos de ICMS para compor o dinheiro a ser destinado a esse tipo de financiamento.
Na prática, a estrutura vai funcionar com um fundo “central”, formado pelos recursos do governo (R$ 350 milhões confirmados até agora) e, a partir dele, serão criados vários fundos “filhos” desse central, cada um para uma determinada empresa ou cooperativa, que vão beber dos recursos públicos e misturá-los aos privados.
O primeiro, já anunciado, é um fundo para a C. Vale, de R$ 400 milhões, vai financiar a construção de 120 galpões. A ambição é que esse seja o primeiro de muitos — fator que tem motivado uma série de conversas com cooperativas do estado.
Nessa trajetória de expansão, a Agroforte tem um papel fundamental. Com mais de R$ 200 milhões em financiamentos concedidos para o setor de proteínas em 14 estados, a startup será a responsável por fazer toda a esteira de crédito do Fiagro estatal, focando principalmente na originação dos recursos na ponta.
Só nos aviários, a estimativa da startup é que cada galpão custe em torno de R$ 2,5 milhões, o que deve levar a uma necessidade de recursos de R$ 1,2 bilhão para colocar os 600 aviários de pé.
“O gargalo era o financiamento longo, com carência, que o produtor comece a pagar quando ele gerar renda. Existem projetos já feitos, existe área e existe mão de obra. Faltava mesmo o dinheiro”, ressalta D’Ávila.
Com a construção dessa capacidade adicional, a startup estima um incremento de R$ 5 bilhões para a cadeia de produção de frango no estado, além de outros impactos indiretos, como o aumento de R$ 519 milhões em geração de valor para a cadeia de grãos — refletindo o aumento da área plantada de milho e soja — além de mais de 5.000 empregos diretos sendo criados.