Crédito

Próximo Plano Safra deve ser o mais difícil em 15 anos, diz CNA

Com a Selic rumo a 15% e custos de produção em alta, entidade pede que o governo fortaleça o mercado de capitais e busque alternativas de funding

Plano Safra

Em elaboração pelo governo federal, o próximo Plano Safra apresenta desafios acima da média neste ano, na avaliação da CNA (Confederação Nacional da Agricultura). Além do alto patamar da taxa de juros, com a Selic caminhando para 15% ao ano, custos de produção mais altos vão aumentar a demanda do produtor por financiamentos.

“O próximo Plano Safra provavelmente vai ser o mais difícil dos últimos 15 anos”, disse Guilherme Rios, assessor técnico da CNA, ao The AgriBiz. “Os custos de produção vão pesar bastante para o produtor. Como as margens estão mais apertadas, a porção de recursos próprios no funding da safra vai diminuir, o que levará a uma maior necessidade por financiamentos”, acrescentou.

Na safra passada, os recursos próprios tiveram uma participação de 19% no financiamento do custeio da soja em Mato Grosso, segundo o Imea. O sistema financeiro respondeu por 30,5% e os bancos (com recursos federais), por 9%. O restante veio das multinacionais de insumos (29%) e das revendas (7%).

Além do aumento nos preços dos fertilizantes, que respondem por cerca de um terço dos custos e foram impactados pela alta do dólar nos últimos meses (80% do total consumido é importado), o dirigente da CNA lembrou da alta do diesel que entrou em vigor em fevereiro.

Na quinta-feira (24), a CNA levou ao secretário de política agrícola do Ministério da Agricultura, Guilherme Campos, sugestões para o próximo Plano Safra, que está em construção. Durante o encontro, Campos disse que a principal dificuldade está no alto patamar dos juros no País, segundo Rios.

Funding alternativo

Diante das dificuldades no orçamento da União para a subvenção das taxas de juros, a CNA sugeriu ao governo federal medidas para fortalecer o mercado de capitais.

“Nos momentos em que o Plano Safra não chegou, foram as fontes privadas que financiaram as safras, principalmente através das CPRs”, disse Rios referindo-se às Cédulas do Produtor Rural. “Se o Plano Safra não está chegando ao produtor, precisamos facilitar outras alternativas.”

Entre elas, destacam-se linhas de crédito em dólar para atividades voltadas à exportação, o que poderia representar uma alternativa aos juros elevados, e o uso de recursos ociosos de fundos públicos — que somariam “bilhões de reais”, segundo Rios, que preferiu não arriscar números.

No documento, a CNA ressalta que seria necessário fazer um levantamento detalhado dos fundos públicos com saldo financeiro ocioso (em outras palavras, dinheiro parado). Segundo a entidade, existem cerca de 200 fundos desse tipo no Brasil, como o Fundo Social, o Fundo de Amparo ao Trabalhador e o Fundo de Desenvolvimento Social. “Esses recursos ociosos seriam remunerados e voltariam para o fundo de origem”, explicou Rios.

Embora a CNA já tenha feito propostas semelhantes em anos anteriores, desta vez o tema foi apresentado como prioritário por causa das condições de crédito mais restritas.

Taxas de até 40%

No documento, a CNA também apontou antigos problemas no mercado de crédito convencional, como os elevados spreads, excesso de burocracia e falta de capilaridade na distribuição dos recursos.

Ressaltou ainda altos custos de intermediação financeira — que acabam encarecendo o custo efetivo total da operação e, muitas vezes, impossibilitam a tomada do financiamento pelo agricultor.

Rios citou como exemplo as ferramentas de gestão de risco. Para contratação de financiamentos para custeio no valor de até R$ 270 mil, os produtores precisam contratar o seguro agrícola ou o Proagro (Programa de Garantia da Atividade Agrícola), uma espécie de seguro público que sofreu um aumento da alíquota adicional (o equivalente ao prêmio do seguro convencional) no ano passado.

Como o seguro rural não está disponível para todas as culturas e regiões, muitos agricultores acabam caindo no Proagro, cujas alíquotas podem chegar a 23% dependendo da região. “O produtor está sendo exposto a custos totais de financiamento entre 30% e 40%. Muitas culturas não possuem essa rentabilidade”, afirmou o representante da CNA.

Para o seguro rural, a entidade estima que seriam necessários R$ 4 bilhões para o Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR). O valor normalmente destinado pelo governo para essa finalidade é de R$ 1 bilhão, com o agravante de que esses recursos são contingenciados.

No total, o montante solicitado pela CNA para financiamento de pequenos, médios e grandes produtores é de R$ 594 bilhões, o que representa um crescimento de quase 25% em relação ao volume disponibilizado no ano passado.