Crédito

Do M&A à dívida. Como a IGC quer ganhar mais empresários do agro

Tradicional advisor de vendedores em M&As, IGC cria área dedicada a estruturar operações de dívida; agronegócio representa quase um terço das transações

Um dos escritórios de M&A mais tradicionais no agronegócio decidiu se dedicar também à estruturação de operações no crescente mercado de dívida.

A IGC Partners, advisor quase onipresente na tese de consolidação de revendas, estruturou uma unidade de negócios voltada exclusivamente a operações de dívida, a Capital Solutions, na qual o agronegócio tem papel relevante.

Das 50 operações de crédito ativas no momento, 30% são de empresas que fazem parte da cadeia do agro. Do total, a expectativa da casa é fechar 20 este ano, segundo Filipe Abdalla, sócio responsável pela área de Capital Solutions da IGC. Seis transações já foram fechadas em 2023, sendo duas do agro, contou Abdalla ao The Agribiz.

A ideia de se dedicar mais à área de dívida surgiu de uma demanda dos próprios clientes da casa, em geral grandes e médias empresas “de dono” — em M&As, a IGC atua exclusivamente do lado vendedor. E ganhou força com o aumento do interesse dos investidores pelo agro.

Filipe Abdalla, Amanda Rangel e Bruno Schaffer, sócios da IGC responsáveis pela Capital Solutions, dedicada à área dívida | Divulgação

No processo de assessoria visando uma fusão ou aquisição, era comum o empresário precisar captar recursos para dar fôlego ao negócio, e a IGC acabava ajudando o cliente a montar essa operação. Com o desenvolvimento do mercado de capitais, e o aparecimento de novas opções de financiamento, fez sentido criar uma área dedicada exclusivamente a essas operações de crédito, contou Abdalla, que lidera a área de dívida da IGC ao lado de Amanda Rangel e Bruno Schaffer.

“Surgiram outras formas de captação além do crédito bancário, mas esse é um mundo muito novo para esse empresário. Ele não conhece quem está emprestando o dinheiro e nem como são essas estruturas”, disse Abdalla. “Era como o M&A no passado.”

Além da falta de familiaridade dos empresários do agro com a linguagem da Faria Lima, a IGC também percebeu que a maioria das operações montadas para esse perfil nem sempre atendia da melhor forma as necessidades de quem precisava acessar o capital.

“Todo mundo que está nesse mercado está mais para o lado do investidor do que para o lado do empresário, que é exatamente a mesma coisa que aconteceu no M&A”, afirma Abdalla. “Precisávamos entrar nisso.”

Crédito customizado

A proposta da IGC é olhar as necessidades do empresário e montar uma operação de dívida que faça sentido para os seus objetivos com o negócio: ele quer crescer mais rapidamente? Ter mais flexibilidade? Aumentar o valor da empresa para não ser muito diluído num futuro M&A?

“Vemos as operações de dívida como um meio, não um fim”, disse Abdalla. “Com operações mais customizadas, queremos atender tanto os nossos clientes atuais como uma massa de empresários que não estão fazendo a melhor operação de dívida que eles poderiam fazer —e que alguns nem sabem que existem”.

Uma demanda crescente do empresário do agro é o alongamento da dívida —opção escassa em produtos de prateleira dos bancos. A recente queda no preço das commodities escancarou essa necessidade, afirma Abdalla.

“Em tempos de bonança, está tudo bem. Na hora que acende a luz amarela, o banco não estende a linha ou aumenta a taxa. Os empresários estão começando a entender que estruturar dívida é uma forma de conseguir capital de longo prazo para ter tranquilidade sem aumentar custo”.

Liquidez voltando

Depois de um primeiro semestre difícil, com um aperto na liquidez após o evento Americanas, Abdalla vê um ambiente muito mais favorável à emissão de dívidas no segundo semestre com a perspectiva de queda nas taxas de juros e uma melhora no preço das commodities, que tem estimulado os empresários a buscar crédito para voltar a investir.

No primeiro semestre, a IGC fechou a emissão de R$ 53 milhões em CRAs com prazo de seis anos da Agrosepac, produtora paranaense de pinus e beneficiamento de madeira que buscava recursos para um projeto de verticalização. “Foi a primeira operação de uma empresa do setor florestal que permeou a indústria de Fiagros”, disse o sócio da IGC.

A outra a operação no setor já concluída foi a emissão de CPRs financeiras, cujo valor não foi revelado, para a Fertsan, empresa de biotecnologia de Fortaleza (Ceará) que captou para financiar seu plano de crescimento.