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Depois de The Coffee e Olga Ri, Outcast vai investir no agro

Firma de venture capital liderada por José Rodolpho Bernardoni agora está de olho em startups de agricultura

José Rodolpho Bernardoni ainda estava na Sapore, a gigante de refeições corporativas de Daniel Mendez, quando começou a desenhar a tese de investimentos da Outcast Capital, uma firma de venture capital especializada em foodtechs.

Naqueles anos, o hype em torno de nomes — então badalados — como Beyond Meat e Impossible Foods parecia justificar uma gestora brasileira só para esse nicho. Até que Bernardoni fez o primeiro roadshow com investidores.

“Havia uma discussão infinita sobre o que era ou não uma foodtech. Alguns achavam que a NoCo é. Outros, não. A The Coffee é uma foodtech ou não?”, recorda Bernardoni Das conversas, o gestor saiu com uma lição de casa: revisitar a tese de investimentos.

Depois de algum tempo de estudos, a Outcast Capital mudou o enquadramento, fugindo do modismo de que buscar a alcunha tech seja sempre o melhor caminho. “O que é, de fato, relevante? É o setor econômico, a cadeia agroalimentar”.

Na Outacast, o time liderado por Bernardoni está em busca de companhias em estágio inicial que atuem ao longo da cadeia de produção de alimentos, fabricando produtos ou prestando serviços.

“É o conjunto de atividades sociais e econômicas que envolvem a produção, processamento, distribuição e consumo de alimentos”, repete Bernardoni, citando um termo da FAO bastante parecido com o se convencionou chamar de agronegócio (conceito cunhado nos anos 1950 pelos professores Ray Goldberg e John Davis, na Universidade de Harvard).

José Rodolpho Bernardoni, fundador da Outcast Capital
“Será que o timing do early stage para serviços financeiros do agro já passou?”, indaga José Bernardoni, da Outcast | Crédito: Divulgação

Sob essa perspectiva, o ramo de oportunidades para investir é bem maior, abarcando desde agtechs que dão crédito para o produtor rural até companhias inovadoras de food service que atuem mais perto do varejo e da distribuição.

Ao olhar para o sistema agroalimentar, a Outcast também quer criar inteligência, o que já motivou a publicação de um relatório sobre os investimentos nesse mercado. No documento, a gestora dividiu a tese de investimentos em quatro verticais: agricultura, supply chain, varejo e serviços ao consumidor, e biotecnologia.

The Coffee e Olga Ri

Das quatro áreas, Bernardoni começou pelo varejo, investindo em The Coffee e Olga Ri, uma startup de venda de saladas por delivery. Na rede de cafeterias, o investimento da Outcast foi feito em uma rodada anterior (há duas semanas, The Coffee anunciou ter levantado US$ 10 milhões com a Capsur).

Os dois investimentos foram feitos por motivos parecidos. “Estamos falando do food service no Brasil, um mercado gigantesco, em categorias proeminentes com café e alimentação saudável”, diz.

Ao contrário do que já ocorre em países de economias mais desenvolvidas, como Estados Unidos, por aqui os grandes operadores de food service ainda representam pouco do mercado. “Aqui, 95% são fragmentados. Então, a gente entende que vai ter uma consolidação”.

The Coffee e Olga Ri também compartilham dois atributos fundamentais na seleção da Outcast: o cuidadoso trabalho de branding, dialogando com os consumidores da Geração Z, diz Bernardoni. “O time de empreendedores também conta. É um clichê, mas um clichê verdadeiro. São empreendedores acima da média”.

Agro no radar

Além das qualidades das startups, começar pelos aportes em startups mais próximas do consumidor é também uma zona de conforto de Bernardoni. Como empreendedor, ele fundou a GoLight, companhia que levava aqueles carrinhos com snacks saudáveis para os escritórios corporativos. A startup acabou vendida à Sapore.

“A minha experiência é mais voltada para o food do que para o agro. Estou mais próximo da ponta do consumo”, reconhece gestor da Outcast.

Aos poucos, no entanto, Bernardoni vai se inteirando das inovações na agricultura. Investir em startups mais voltadas para a outra ponta da cadeia de valor — o produtor rural — parece questão de tempo. Uma das ideias é ter um veículo de investimentos o para o agro. “Muito provavelmente, é o próximo passo”.

A Outcast quer se posicionar em startups de serviços financeiros para o agro (as agfintechs), mas ainda há alguma reflexão a fazer. “No agro, é inevitável olhar para os serviços financeiros. Já tem algum tempo está borbulhando. Será que o timing do early stage para serviços financeiros do agro já passou? Será que tem muita gente operando?”, indaga Bernardoni.

O modelo de investimentos

Para fazer os investimentos, a Outcast estruturou um veículo em Delaware que pode comportar diversos ativos no portfólio. Não é o formato de um fundo tradicional e, portanto, não há prazo de investimentos. Quando encontra um ativo, a base de investidores é acionada.

Tipicamente, o veículo da Outcast entra em rodadas iniciais (pré-seed, seed e série A), com um tíquete médio de US$ 150 mil, acompanhando rodadas lideradas por outras gestoras.

A base de investidores da Outcast inclui family offices e empreendedores conectados com a causa da alimentação, como Juliana Bechara, fundador da Bioma Food Hub.