Opinião

Com chuva irregular, plantio de soja trava e eleva risco para o milho

El Niño atrapalha regularização das chuvas, mas temperatura do Oceano Atlântico também é protagonista

Dados da Conab entre 16 e 22 de outubro de 2023 mostram que o plantio de soja avança mais lentamente do que no ano passado. Com 28% do plantio concluído na média brasileira, o atraso era de 6 pontos percentuais em relação ao mesmo período de 2022. Mas, quando olhamos para alguns Estados, a diferença é bem maior: -12,5 pp em Mato Grosso, -19 pp em Mato Grosso do Sul, -17 pp em Goiás e -14 pp em Minas Gerais.

Parte desse atraso pode ser creditado ao fenômeno El Niño, aquecimento das águas do oceano Pacífico na região da Linha do Equador. As frentes frias chuvosas não conseguem passar da região Sul. O resultado é um enorme excesso de umidade. Em Frederico Westphalen, no norte do Rio Grande do Sul, o acumulado em outubro passa dos 500 milímetros —o normal para o mês seria 180mm.

Por outro lado, a regularização da precipitação atrasa em grande parte das regiões Sudeste, Centro-Oeste, Norte e Nordeste.

Mas o El Niño não é o único causador desse atraso. Alguns outros oceanos têm um peso razoável na regularização da chuva no Brasil. Um deles é o nosso vizinho Atlântico. Quando as águas do Atlântico no Hemisfério Norte ficam mais quentes que as águas do Hemisfério Sul, há uma diminuição do transporte de umidade deste oceano para o Brasil.

Em 2020, mesmo sob La Niña, fenômeno que ajuda a levar chuva mais intensa ao centro e norte do país, as precipitações demoraram a regularizar. Em Mato Grosso, por exemplo, o plantio de soja entre 23 e 30 de outubro alcançava 48% da área, valor mais baixo que o atual.

Previsão

Em um curto prazo, na primeira semana de novembro, até há previsão de chuva mais organizada sobre o Matopiba, Pará, Rondônia, Mato Grosso, Goiás e Minas Gerais. Mas os dez dias seguintes serão mais secos e quentes novamente.

Ainda assim, neste “chove não chove”, a tendência é de que o plantio acelere no início do próximo mês. O problema é que o risco com a segunda safra já é elevado neste momento. A tendência é que uma parte do milho seja instalado mais para o fim do verão e que a chuva do outono de 2024 não seja suficiente para completar todo o ciclo da cultura nas regiões Sudeste, Centro-Oeste, Matopiba, Pará e Rondônia.