SNAG11

Fiagro da Suno traz Leitíssimo e chega a R$ 500 milhões

Fundo levanta R$ 200 milhões em follow-on e chega a R$ 500 milhões em patrimônio, melhorando taxa média dos CRAs que compõem o portfólio

O capixaba Vitor Duarte tinha saído de mais uma live no Instagram e ainda não sabia que tinha despertado um interesse peculiar. Costumeiramente, o chefe de investimentos da Suno usa as redes sociais para interagir com a base digital de pessoas físicas que compram os fundos da companhia fundada por Tiago Reis, mas naquele dia começava a originar um crédito para o Fiagro da casa, o SNAG11.

Fabio Chiqueta Ribeiro, diretor financeiro da Leitíssimo, tinha assistido a live e estava em busca de alternativas de financiamento para fazer investimentos, e enviou uma mensagem para Duarte pelo LinkedIn. Começava ali uma conversa que levaria alguns meses, mas marcaria a estreia do laticínio no marcado de capitais.

Conhecido pela garrafa de longa vida com a simpática vaquinha e onipresente nas melhores cafeterias do país, a Leitíssimo captou R$ 40 milhões por meio da emissão de um CRA totalmente subscrito pelo Fiagro da Suno. Os dados acabam de ser divulgados no relatório gerencial do fundo.

Rebanho leiteiro da Leitíssimo
Fazenda da Letíssimo em Jaborandi, na Bahia, possui o maior rebanho de vacas criadas a pasto, diz Simon Wallace | Crédito: Divulgação

A emissão da Leitíssimo é parte de um esforço maior que os principais executivos à frente do Fiagro da Suno vinham estruturando para ampliar o tamanho do fundo. Num fato relevante divulgado na manhã desta segunda-feira, a gestora informou que encerrou o terceiro follow-on do SNAG11, captando R$ 202 milhões.

Com isso, o Fiagro da gestora chegou a um patrimônio de R$ 500 milhões, disse Amanda Coura, managing director da Suno e uma das responsáveis pela estruturação de crédito, ao The Agribiz.

Originação de crédito

Diferentemente do que ocorre na maior parte das gestoras de Fiagro, a Suno não capta os recursos primeiro para depois buscar alocá-lo. O modelo é o inverso. Assim como já havia feito com a Boa Safra, primeira companhia a apostar no modelo de financiamento desenhado pelo SNAG11, a Leitíssimo usou o próprio caixa para comprar cotas do Fiagro.

Para o fundo e os cotistas, há clara vantagem: não há desalocação. Além disso, o custo de distribuição das emissões também cai vertiginosamente. No último follow-on, foi de apenas 0,2% por cota. Na última emissão do KNCA11, o maior Fiagro do mercado, saiu a 1,8%.

Do lado da Leitíssimo e das demais companhias que fazem parte do portfólio, o recurso total do CRA pode não cair imediatamente no caixa, mas o Fiagro tem liquidez para que o laticínio venda os recursos no mercado secundário gradualmente, levantando o caixa para os investimentos.

A Boa Safra, que provou o modelo, vem ampliando a aposta. Depois de ancorar a primeira e a segunda emissão do SNAG11, ambas no ano passado, a empresa de sementes dos irmãos Camila e Marino Colpo também participou deste último follow-on, em valores ainda não divulgados.

Nas duas primeiras emissões, o Fiagro da Suno comprou R$ 265 milhões em CRA da Boa Safra. O título conta com garantias da sementeira, mas o crédito é pulverizado e lastreado em clientes (53 CPRs de produtores e revendas agrícolas, especialmente), o que diversifica o risco do fundo. A Suno fez a análise de crédito de cada um dos clientes que entrou no CRA pulverizado.

Para a Boa Safra, o Fiagro é um mecanismo para aliviar o volume de recebíveis que fica no balanço, permitindo que a sementeira continue crescendo. O alívio ocorre aos poucos, uma vez que no primeiro momento é a própria companhia que compra as cotas do Fundo.

Liquidez do SNAG11

Para dar liquidez e manter uma estratégia de distribuição mais barata, a Suno aposta na estratégia digital que ajudou o negócio criado por Tiago Reis a ficar conhecido, reunindo mais de 5 milhões de seguidores nas redes sociais.

Só no Fiagro, a gestora ganha mais de 1 mil cotistas por semana e, atualmente, já tem mais de 70 mil investidores e negocia, em média, R$ 1,3 milhão por pregão. Conforme o fundo aumenta com as novas emissões, a tendência é que a liquidez também melhore.

Cerimônia que marcou o IPO do SNAG11, no ano passado: Fiagro da Suno chegou a R$ 500 milhões de patrimônio | Crédito: Reprodução/B3

Para ser ter ideia do ritmo de monetização, dos quase R$ 300 milhões em cotas do SNAG11 que a Boa Safra comprou nas duas primeiras emissões, a maior parte já foi vendida no secundário, reforçando o caixa. Em junho, quando divulgou o último balanço trimestral, a sementeira tinha apenas R$ 96 milhões em cotas não vendidas.

Investimentos da Leitíssimo

O mesmo raciocínio vai valer para a Leitíssimo. À medida em que o laticínio vende as cotas do SNAG11 no mercado secundário, traz os recursos para financiar investimentos em pivôs de irrigação e sala de ordenha na fazenda de Jaborandi (BA).

Com vencimento em cinco anos e juros de CDI + 5% ao ano, o CRA da Leitíssimo conseguiu um prazo mais largo do que os bancos comerciais estão acostumados a conceder, diz Octaciano Neto, head de agronegócios da Suno.

“Se você olha os dados do Banco Central, as operações de crédito rural com mais de três anos são menos de 10%”, diz. O Fiagro, por não ter prazo para saque — o cotista que quiser pode sair via mercado secundário — pode ser uma alternativa para financiar os investimentos de longo prazo, defende Neto.

Ao avaliar o risco de crédito da Leitíssimo, o perfil premium da companhia pesou positivamente. Enquanto laticínios tradicionais enfrentam a competição do leite em pó importado, o laticínio comandado pelo neozelandês Simon Wallace está em um nicho diferente, pouco sensível à renda.

Leitíssimo
Onipresente nas melhores cafeterias do país, Leitíssimo é vendido com prêmio de 60% sobre convencionais | Crédito: Divulgação

“Nossa marca traz uma qualidade e experiência do consumidor que nos coloca quase dentro de outro segmento. Não estamos em commodity”, contou Wallace ao The Agribiz. Segundo ele, a Leitíssimo chega ao varejo com um prêmio da ordem de 60% sobre o leite longa vida convencional. Com isso, as margens também são maiores.

Com cerca de R$ 120 milhões em faturamento em 2023, a Leitíssimo possui um modelo verticalizado de produção, com um rebanho de 6 mil cabeças de gado. A companhia cresceu, em média, 20% ao ano nos últimos cinco anos.

“Destacamos a robusta geração de caixa da companhia, a baixa alavancagem financeira e a grande qualidade da operação”, escreveu a Suno, no último relatório gerencial do SNAG11.

Na operação, o Fiagro conta com a fazenda de Jaborandi em garantia e aval dos donos da Leitíssimo.

Maior produtor de café

Além da entrada em lácteos, o Fiagro da Suno também estreou em café. Com a conclusão do follow-on, o SNAG11 também trouxe João Ruiz Lourenço, um dos maiores produtores de café do país.

No mesmo formato de Boa Safra e Letíssimo, o cafeicultor vai levantar cerca de R$ 50 milhões com a emissão de um CRA. Ruiz comprou cotas do fundo e vai colocar os recursos no caixa gradualmente, vendendo no mercado secundário.

A Suno também está estruturando uma segunda operação no setor de café, que vai compor o portfólio.

Taxa de juros

Com a diversificação dos ativos, deixando de ter apenas Boa Safra ou clientes da sementeira como lastro, o Fiagro da Suno conseguiu aumentar as taxas de juros do fundo.

O CRA pulverizado da Boa Safra paga CDI + 3% ao ano, enquanto os papéis da Leitíssimo vão pagar CDI + 5% ao ano e Ruiz, CDI + 4,5%.

Além disso, o Fiagro da Suno é dono de dois imóveis onde estão os centros de distribuição da Boa Safra, que paga aluguéis ao fundo (IPCA + 8% ao ano). Os dois imóveis somam quase R$ 25 milhões em patrimônio.

Em doze meses, o SNAG11 pagou um dividendo anual equivalente a 13,58%. Com os novos ativos no portfólio, a Suno pode reduzir a diferença de rendimento na comparação com os fundos de casas como Kinea, JGP, XP e FG/A.