Insumos

O efeito colateral da queda na área de milho. Vittia traça o cenário

Para Vittia, uma das líderes em insumos biológicos, a significativa retração no plantio da safrinha vai aumentar o preço do grão e pode até estimular adoção de tecnologia em algumas áreas

As primeiras consequências do clima adverso neste início de safra estão claras para o mercado de commodities agrícolas: o atraso no plantio da soja reduzirá a janela ideal para a semeadura da segunda safra, levando a uma queda relevante na área de milho. Mas os desdobramentos dessa mudança no quadro de oferta global de milho ainda não estão sendo considerados e, em breve, vão resultar em aumento no preço do grão.

A análise é de Wilson Romanini, CEO da Vittia, uma das maiores empresas de insumos biológicos no País. “O milho vai ter uma valorização muito grande em termos de preço na hora que o mercado perceber o tamanho dessa queda na área, que deve ficar entre 20% e 25%, e da própria redução na adoção de tecnologia, o que resultará em menor produtividade”, disse o executivo, que também é membro da família fundadora, em call de resultados nesta sexta.

Os efeitos desse aumento de preço podem chegar, também, ao mercado de insumos. A queda na área plantada deve ter maior impacto sobre o setor, mas alguns agricultores podem até aumentar a demanda por tecnologia.

“O produtor que conseguir plantar na janela ideal vai usar tecnologia para colher mais por hectare, porque ele vai ter esse grão bem valorizado”, avaliou Romanini.

Lavoura de milho em desenvolvimento inicial; produtor que tiver boa janela na safrinha vai investir, diz CEO da Vittia | Crédito: Shutterstock

Se o cenário traçado por Romanini se confirmar, será uma mudança relevante sobre o atual momento. Nesta sexta-feira, os contratos futuros de milho atingiram o menor patamar em três anos, refletindo a revisão para cima na estimativa do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) para a produção americana.

Além das expectativas de reversão de preços no milho, a Vittia também tem se preparado para outra consequência dos atuais problemas climáticos: um possível aumento de demanda por algumas categorias específicas devido à necessidade de replantio da oleaginosa em algumas regiões. “O problema do replantio é grande e vai proporcionar algo nesse sentido”, disse.

Resultado

Depois de apresentar resultados mais fracos do que o esperado pela própria administração no terceiro trimestre, a Vittia apresentou perspectivas positivas para o último trimestre do ano. “Outubro foi um mês forte e a acreditamos que novembro e dezembro também serão meses fortes com o clima regularizado”, disse.

O lucro líquido da companhia caiu 25% em relação ao terceiro trimestre do ano passado, para R$ 58 milhões, enquanto o Ebitda recuou 22% e atingiu R$ 90 milhões.

Do lado positivo, a demanda por produtos biológicos—segmento de margens maiores— continuou crescendo e a divisão apresentou aumento de 5,7% na receita na comparação anual. Mas, no resultado consolidado, ainda pesou mais a queda nos preços das categorias tradicionais. A receita líquida da empresa caiu 5,3% no terceiro trimestre, para R$ 291 milhões, puxada pela retração de 21% no faturamento com fertilizantes e produtos industriais.

A Vittia está avaliada em R$ 1,3 bilhão na Bolsa. No ano, as ações caem 21%.