Quando Sergio Rial assumiu a presidência do conselho de administração do Santander Brasil, elegeu o agronegócio como uma das prioridades de sua gestão. Em pouco tempo, o banco espanhol se tornou uma referência de atuação no campo e chegou a liderar em crédito rural entre os bancos privados, numa estratégia que inspirou concorrentes como o Itaú BBA.
Quase nove anos depois, Rial pode repetir a experiência em outra instituição financeira. Conhecedor do agronegócio global como poucos — ele foi CFO global da Cargill e CEO da Marfrig —, o executivo é um dos maiores incentivadores da incursão da Ebury, fintech inglesa controlada pelo Santander, no agro brasileiro.
À frente do conselho da Ebury desde que o Santander comprou o controle da startup fundada por Juan Lobato e Salvador García, Rial enxerga no agronegócio uma das principais avenidas para a fintech crescer no Brasil.
Embora ainda seja pouco conhecida no mercado local, a startup vem crescendo rapidamente no Brasil, oferecendo uma plataforma de câmbio para pequenas e médias empresas, com um modelo que facilita a abertura de contas em diversas moedas com custo baixo e transferências internacionais em 15 minutos.
Se o serviço de câmbio é o carro-chefe da Ebury, nada mais lógico do que atuar no agro, um dos setores mais expostos ao comércio exterior. “O Sergio sempre foi um cara que entende muito de agro, e é o chairman global. E o agro é um negócio de exportação, que tem muito a ver com câmbio”, disse Fernando Pierri, um brasileiro ex-Santander que lidera o time comercial global da fintech, em entrevista ao The Agribiz.
No Brasil, Ebury agora é banco
As ambições da Ebury para o Brasil não são pequenas. “Eu quero ser o banco de referência do comércio exterior no Brasil. Só que vou ser puxado pelo agro. Todo mundo que quer fazer câmbio no agro vai conhecer o Ebury Bank”, contou Pierri.
Há poucas semanas, a fintech obteve a autorização do Banco Central brasileiro para comprar o Bexs Banco. A conclusão da aquisição, que havia sido anunciada em maio do ano passado, multiplica o tamanho da companhia no Brasil. O número de funcionários passa de 30 para cerca de 250.
Em câmbio comercial, a Ebury vem praticamente dobrando de tamanho. De janeiro a julho, a fintech foi responsável por R$ 815 milhões, segundo Pierri.
Frutas e café
Para fazer do agro uma alavanca de crescimento, a Ebury vem apostando em ajudar os exportadores de frutas e café, onde há mais produtores de médio porte com produtos de qualidade especial que deseja exportar direto.
A fintech também atende tradings de maior ou menor porte, mas o diferencial está nas PMEs, diz Pierri. “Nós trazemos a democratização da conta internacional que o grande já tem”.
Também por isso as áreas de frutas e café interessam tanto. “Em grãos e carnes, os clientes já têm conta internacional”, emenda o executivo, citando os dois setores do agronegócio que mais exportam (tradings e frigoríficos).
Nas frutas, a Ebury já atende clientes como Ronaldo Araújo, CEO da Agrícola Araújo — também conhecida como Sebastião da Manga. Sediada em Casa Nova (BA), no Vale do São Francisco, a companhia exporta mangas para a União Europeia usando os serviços da fintech.
Segundo Araújo, um dos principais diferenciais da fintech é a oferta de hedge cambial, protegendo a receita dos exportadores por prazos mais longos. Ao fazer a oferta desse tipo de produto (um derivativo de balcão feito pela plataforma da Ebury), a startup ajuda os exportadores que desenvolver uma política de hedge, diz Pierri.
Para atrair clientes, a Ebury tem se tornando uma presença mais frequente em férias internacionais e nacional. A startup esteve na última Fruit Attraction, em Madrid, e participou de eventos de café no Sul de Minas Gerais.
IPO em Londres
Enquanto busca ganhar corpo no Brasil, a Ebury vem planejando um passo maior em sua estratégia de crescimento, o que inclui um IPO na bolsa de Londres. Na semana retrasada, a Reuters informou que a Ebury contratou a butique financeira Perella Weinberg para preparar a operação.
A startup já é um unicórnio (na última rodada, o Santander avaliou a companhia em US$ 1,1 bilhão) e a pretensão é chegar à bolsa com um valuation de mais de US$ 2 bilhões até 2025. No ano passado, a companhia faturou o equivalente a US$ 250 milhões.
O Santander possui 67% da Ebury e pode multiplicar o capital investido no IPO.