O brasileiro Felipe Villela, um dos nomes mais frequentes em painéis e discussões sobre agricultura regenerativa, deixou recentemente a reNature, a startup ambiental que fundou ao lado do holandês Marco de Boer com a ambição de regenerar 1 milhão de hectares pelo mundo.
A decisão chamou a atenção do mercado para o futuro da reNature e das dificuldades para alavancar a agricultura regenerativa, mas Villela garante que a startup — que prestou consultoria para companhias como Nestlé e Lojas Renner — continua em operação, apesar de sua saída.
Villela deixou a reNature para liderar a operação do The Landbanking Group na América Latina. Na startup de origem alemã, ele espera conseguir uma escala para os projetos de agricultura regenerativa por aqui.
“Às vezes, ficava frustrado porque trabalhando em consultoria você não consegue ver muito crescimento. Aumento de impacto e escala é o que eu sentia falta”, reconheceu o empreendedor, em uma entrevista ao The Agribiz.
Fintech ambiental
Em números, o Landbanking já é maior que a reNature. Em seis anos desde sua fundação, a startup que o brasileiro cofundou chegou a 30 pessoas, enquanto a startup alemã já possui 42 funcionários em apenas um ano de atuação.
Os alemães também estão capitalizados. No mês passado, a startup levantou US$ 11 milhões, em uma rodada seed liderada por BonVenture (uma gestora alemã que investe em negócios impacto social) e o filantropo suíço André Hoffmann, que é herdeiro da farmacêutica Roche e ambientalista.
“Tem muita gente que pensa que é mais uma empresa da Europa querendo captar. Mas é o contrário. A ideia é trazer recurso para investir na regeneração e no Brasil”, resume Villela.
O objetivo do Landbanking é trazer recursos para os agricultores investidores em práticas que ajudem a regenerar o solo. A ideia é que os produtores sejam remunerados para melhorar as práticas, resolvendo um dilema que muitas vezes ainda trava a adoção no campo.
“Um dos maiores desafios para escalar a agricultura regenerativa é dar viabilidade econômica para os produtores. Para isso, precisamos criar mecanismos financeiros de capital natural”, argumenta o empreendedor.
Conta de capital natural
Com tecnologia, a Landbanking está investindo em uma tecnologia que promete fazer um inventário de capital natural de cada produtor. A ideia é que, com isso, a fintech possa conseguir empresas dispostas a pagar pelos chamados “créditos da natureza”, canalizando os recursos para os agricultores melhorarem o solo.
“Terra é um dos ativos mais valiosos de nossos tempos. É preciso remunerar a todos que a preservam”.
A metodologia do Landbanking vai além do crédito de carbono, de propósito. Os créditos da natureza que podem ser gerados também vão considerar dados como biodiversidade, valor nutricional do solo e água (capacidade de infiltração).
Para prestar os serviços, a startup alemã será remunerada de duas formas. As empresas que quiserem aplicar a tecnologia para calcular o capital natural de seus fornecedores pagam pelo uso do software.
Quando os créditos da natureza forem comercializados, a Landbanking também ficará com uma taxa. O restante fica com os agricultores, que devem usar os recursos em práticas de agricultura regenerativa.
A renda é anual e, conforme melhorem a qualidade do solo e a conta de capital natural, mais recursos serão convertidos para o produtor. Para os agricultores, a ferramenta da Landbanking será gratuita.
Além de multinacionais que queiram fomentar as práticas de agricultura regenerativa com a compra dos créditos da natureza, o Landbanking também acredita que o negócio pode atrair investimentos de governos europeus.
“A natureza oferece US$ 140 trilhões de serviços para nós todos os anos, e de graça. Ela precisa de um banco melhor”, resume Villela.