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O CRA do breakeven: Solinftec capta R$ 150 milhões

"Foi a última janela de oportunidades para o investidor obter uma remuneração nesse patamar”, disse Laís Braido, CFO da startup

Em uma emissão de CRA que atraiu gestoras tarimbadas como Verde e Vinland e Fiagros de casas como FG/A e Devant, a Solinftec — startup de agricultura digital e automação de lavouras — acaba de levantar R$ 150 milhões.

Além de alongar o perfil da dívida da agtech fundada pelo cubano Britaldo Hernandez, o CRA marca o início da nova fase da Solinftec, startup que já foi apontada como uma das principais candidatas a ser o primeiro unicórnio do agro tupiniquim.

“Foi a última janela de oportunidades para o investidor obter uma remuneração nesse patamar com uma empresa que já atingiu o breakeven”, disse Laís Braido, CFO da empresa.

Com vencimento em cinco anos, os CRA foram emitidos em duas séries: a primeira delas saiu a CDI +5,5% ao ano e a taxa da segunda ficou em IPCA +11,697% ao ano. A emissão foi coordenada pelo Itaú BBA.

Com a emissão, a empresa encerra um ano focado na gestão financeira, visando a geração de caixa operacional e Ebitda positivo. A agtech deverá encerrar o ano com Ebitda acima de R$ 60 milhões e uma receita de aproximadamente R$ 300 milhões — uma implica uma margem da ordem de 30%.

Dos 16 investidores que aderiram à emissão, sete ainda não faziam parte da base da Solinfitec, segundo Caio Viggiano, managing diretor de renda fixa do Itaú BBA.

Entre os investidores que estrearam, estão Fiagros da FG/A e da Devant, que anunciaram o investimento no CRA da Solinftec nos últimos relatórios gerenciais.

Ebitda agora é covenant

Com o caixa do CRA recém-captado, a Solinftec vai alongar o endividamento, formado basicamente por emissões de CRAs que somaram quase R$ 500 milhões nos últimos quatro anos. O primeiro deles, emitido em 2019, já se aproximava do vencimento.

Ao virar o resultado para um Ebitda positivo, a startup aceitou adotar o tradicional indicador de alavancagem (relação entre dívida líquida e Ebitda) como covenant nessa nova emissão, no lugar de uma métrica de receita anualizada utilizada nas emissões anteriores (ARR).

O compromisso da empresa é chegar a uma dívida líquida de 3x o Ebitda em quatro anos, ante 4,5x atualmente, disse a CFO. Para a receita, a meta é superar R$ 1 bilhão em cinco anos.

“O compromisso com um covenant tradicional mostra que a operação dá resultado”, disse um gestor que comprou o CRA.

Em 2023, o ritmo de crescimento desacelerou em comparação aos anos anteriores em busca de maior disciplina financeira, um retrato do que vem acontecendo com várias startups ao redor do mundo (os juros mais altos reduziram a liquidez na indústria de venture capital).

Segundo Braido, a receita da Solinfitec deve fechar este ano com um aumento de 20%, inferior aos 50% registrados em anos anteriores. Mas, com a parte financeira em ordem, a ideia é voltar a acelerar nos próximos anos, segundo a CFO.

“A Solinftec já á capaz de sustentar o seu crescimento com a geração de caixa. A partir do ano que vem, podemos crescer de 20% a 30% ao ano sem uma nova rodada de equity”, disse a executiva.

Para retomar o patamar anterior e destravar crescimento adicional, a empresa vai precisar de mais investimentos. “Vamos olhar de forma oportunística para o mercado a partir de 2024”, disse.

Desde a fundação, a Solinftec captou mais de US$ 100 milhões. Na última rodada de equity, em maio de 2022, a startup levantou US$ 60 milhões, atraindo o Lightsmith Group. Unbox Capital, da família de Luiza Trajano, e os sócios da 10b também são investidores da agtech.