Opinião

COP-28 dá passo importante rumo à agricultura regenerativa

Discussões sobre agricultura de baixo carbono, florestas tropicais e financiamento multilateral estão em todos os painéis e corredores da COP-28

DUBAI — As mudanças climáticas representam um dos desafios mais prementes e significativos de nossa era. Suas implicações, particularmente para a agricultura, são profundas e cada vez mais evidentes. À medida que os impactos do aquecimento global se intensificam, a comunidade internacional se vê confrontada com a necessidade urgente de abordar não apenas questões ambientais, mas também riscos macroeconômicos associados a elas.

A Organização das Nações Unidas (ONU) vem divulgando que existe uma diminuição da ajuda financeira dos países ricos para as nações mais pobres enfrentarem as mudanças climáticas. Em 2021, essa ajuda financeira caiu 15%, atingindo um total de US$ 21 bilhões.

Segundo a ONU, os países em desenvolvimento necessitam de pelo menos dez vezes esse montante para se adaptarem eficazmente às mudanças climáticas. Esse fato nos coloca diante de um dilema, uma vez que a falta de recursos compromete a capacidade desses países de enfrentar as consequências evidentes do aquecimento global.

Para endereçar essa questão, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) anunciou, durante a COP-28, US$ 150 bilhões ao longo da próxima década para financiamento climático. Também na COP, os Emirados Árabes Unidos anunciaram mais US$ 30 bilhões para um fundo focado em soluções climáticas em mercados emergentes e, numa parceria com a Fundação Bill e Melinda Gates, investirão outros US$ 2,5 bilhões para financiar sistemas alimentares resilientes e de baixa emissão de carbono.

O agro e o Brasil na COP

A agricultura é altamente suscetível aos efeitos das mudanças climáticas, pois a produtividade das culturas e a disponibilidade de recursos hídricos estão diretamente ligadas às condições do clima.  Ao mesmo tempo, o setor é crucial para reduzir as emissões de gases de efeito estufa por conta da capacidade da agricultura, especialmente a tropical, de fixar carbono e nitratos nos solos.

Isso faz da agricultura de baixo carbono uma parte da solução que merece financiamento, tanto para compensar boas práticas como para escalar seu potencial de remoção de gases de efeito estufa da atmosfera. O tema tem sido abordado em diversos pavilhões da COP- 28, tanto nos temáticos como nos geográficos.

Nas discussões da COP-28, a responsabilidade dos países ricos em ajudar os mais pobres tem sido tema central.

A delegação brasileira destaca a importância da responsabilidade dos países ricos em cumprir suas promessas de ajuda financeira. No entanto, é fundamental reconhecer que a mudança climática é um desafio global que exige ação conjunta de todas as nações, independentemente de sua posição econômica.

Nesta COP, o Brasil assumiu sua parte da responsabilidade. O País apresentou um plano de Transição Ecológica que busca mobilizar US$ 3,4 bilhões e um projeto preliminar do Fundo Floresta Tropical para Sempre que pode movimentar US$ 250 bilhões.

A COP-28 está promovendo um passo importante no sentido de mobilizar recursos para o combate das mudanças climáticas em geral e a promoção de agricultura de baixo carbono em específico —apesar de muita crítica e polêmica sobre o papel predominante de grandes poluidores e de uma discussão que, muitas vezes, coloca a agropecuária como vilã das mudanças climáticas.

A presença, tamanho e relevância da delegação brasileira têm sido críticos para esses temas reverberarem. O impacto da agricultura regenerativa, florestas tropicais e financiamento multilateral é onipresente nos corredores do Expo City Dubai —até brincamos que o português poderia virar língua oficial.