Antônio Francisquini, o empresário que começou uma inusitada carreira como cobrador de ônibus e se tornou um dos maiores produtores do café do mundo, acaba de assumir o controle da Ipanema Coffees, a mais relevante companhia de cafés especiais do Brasil.
Numa transação anunciada nesta sexta-feira, a AFB&IOB — a holding familiar do casal Antônio Francisquini e Idalina Baptista —, assumiu 63% do capital da Ipanema Coffees.
No M&A, Francisquini comprou a participação de outros dois sócios brasileiros: a Santa Colomba, companhia agrícola criada pelo engenheiro naval Fernando Prado, e a Paraguaçu. Os alemães da Tchibo, uma importante torrefadora de café, seguem como acionistas.
Em um comunicado, o diretor da AFB&IOB, Sergio Vieira, disse que a sociedade com os alemães soma a “expertise brasileira na produção de cafés” com o “profundo conhecimento” que a Tchibo tem dos mercados mundiais.
Ao assumir o controle, a família quer ampliar a relevância da Ipanema nas exportações. Atualmente, a companhia já exporta para 25 países.
Uma das fundadoras da BSCA, a associação que vem ajudando a disseminar o café especial no Brasil, a Ipanema possui 6,1 mil hectares, espalhados por quatro fazendas em Minas Gerais. A companhia produz mais de dez variedades de café arábica.
Há dois meses, a Ipanema ganhou o Cup of Excelente — uma das premiações mais relevantes do setor — pelo café produzido na Fazenda Rio Verde, que fica no município de Conceição do Rio Verde (MG).
A estratégia da Santa Colomba
A mudança de controle na Ipanema Coffees marca também o fim de um ciclo de investimentos da Santa Colomba no café. O grupo agrícola era sócio da Ipanema desde 2016, quando comprou a participação de 24% da família Fernandes, uma das fundadoras da Ipanema, que também já chegou a ter a Gávea, de Arminio Fraga, como acionista.
Fundado por Fernando Prado na região de Cocos (BA), o grupo Santa Colomba cultiva algodão, soja, milho e cacau em um projeto ambicioso com área irrigada.
Em entrevista ao The Agribiz, o CEO da Santa Colomba, Miguel Prado, disse nesta sexta-feira que a decisão de vender a participação na Ipanema veio da constatação de que o capital do grupo seria mais bem utilizado se investido na expansão da área irrigada na Bahia
Além disso, o potencial de crescimento das áreas de cafés da Ipanema era bem menor.
Segundo Prado, a experiência da Santa Colomba como sócia da Ipanema foi fundamental para o grupo baiano aceitar que não conseguiria produzir café especial com a qualidade necessária para obter os prêmios que gostaria.
“Foi um aprendizado. Concluímos que o nosso café não ia ter um super potencial. Eram cafés com 80 a 82 pontos. Os cafés super especiais, como os que a Ipanema consegue ter, têm de 88 a 90 pontos”, disse Prado.
Investimento em irrigação
Por causa da menor aptidão para os prêmios pretendidos, a Santa Colomba já havia deixado de produzir café na Bahia, focando nas outras culturas. Pioneiro em trazer o café para o oeste baiano nos anos 1990, o grupo chegou a ter 1,3 mil hectares de cafezal.
Com o dinheiro da venda, Prado vai direcionar todo o foco para a expansão da área irrigada, que deve passar dos atuais 15 mil hectares para 32 mil hectares. Para fazer essa expansão, a Santa Colomba já havia levantado uma debênture incentivada de R$ 150 milhões no começo de 2023.
Ao todo, a área da Santa Colomba soma 135 mil hectares. Um dos grupos agrícolas de governança mais organizada do país, a companhia da família Brado tem balanço auditado pela KPMG. No ano passado, faturou R$ 489 milhões.
Os valores da venda da Ipanema não foram divulgados.