A Carapreta, butique de carnes nobres que ganhou espaço em algumas das churrascarias mais conhecidas de São Paulo e chegou a incomodar grandes frigoríficos que disputam espaço no food service, enfrenta uma turbulência no comando.
Há duas semanas, a companhia demitiu os dois principais executivos: Vitoriano Dornas, CEO e grande responsável pela construção do projeto; e o diretor comercial Marcos Marianno, um ex-Seara que ajudou na expansão das vendas.
A decisão ocorreu em meio a uma mudança na estrutura de controle acionário da companhia, com uma separação entre os irmãos José, Rodolfo e Adolfo Géo.
O trio é dono do grupo mineiro A.R.G (companhia fundada em 1978 e que fez fortuna como empreiteira) e deu origem a uma série de negócios, incluindo a criação de gado e o desenvolvimento da marca de carne.
Duas fontes disseram ao The Agribiz que Rodolfo comprou a participação dos irmãos José e Adolfo, se tornando o único sócio da Carapreta. Procurada pela reportagem, a empresa confirmou a mudança acionária e a saída dos dois principais executivos.
“Seguiremos com novas estratégias com o objetivo principal de expandir as operações como boutique e companhia de carne, buscando melhoria contínua e garantia da qualidade”, respondeu a Carapreta, em um comunicado enviado à reportagem.
Nos últimos anos, o grupo fez uma ofensiva de marketing, ganhando espaço nas gôndolas de supermercados como St. Marché e em açougues de algumas das lojas mais premium do Carrefour.
Com produção de gado angus e wagyu, a refinada raça japonesa, a Carapreta possui várias certificações, com uma aposta na sustentabilidade. A companhia é uma das poucas que têm certificado atestando uma redução nas emissões de metano dos bovinos por meio do uso do aditivo Bovaer, que é produzido pela DSM-Firmenich.
Repercussão
No mercado, a decisão chamou atenção. Para alguns, a família Géo pode estar tirando o pé dos investimentos na produção de carnes para se concentrar na criação de gado em confinamento, aproveitando a ampla estrutura que construíram nos últimos anos.
Os confinamentos do grupo ficam em três fazendas em Minas Gerais, nos municípios de São João da Ponte e Jequitaí.
“Eles têm confinamentos muito modernos, coisa que eu nunca tinha visto aqui no Brasil”, disse um executivo da indústria. A operação é toda verticalizada, com irrigação por pivô central no plantio de grãos que se torna ração para os animais.
No comunicado enviado ao The Agribiz, a Carapreta assegurou que a produção de carne deve continuar. “Reafirmamos o compromisso em produzir a melhor proteína animal do mercado, mantendo elevados padrões de qualidade, regularidade, rastreabilidade e padronização”, disse a empresa.
Executivos experientes da indústria de carne também têm dúvidas sobre a lucratividade do negócio de abate do grupo. “Eles têm bastante dinheiro para queimar com marketing e ineficiência operacional”, disse um concorrente.
O porte da Carapreta
Com investimentos que já foram estimados em R$ 1 bilhão — número divulgado pelo ex-CEO em diversas entrevistas—, a Carapreta possui um dos maiores rebanhos de gado angus do Brasil, com cerca de 70 mil cabeças.
Além da criação de gado, o grupo planta soja e milho, em uma área de 3,5 mil hectares, e cria ovinos e pescados. Há ainda uma área de energia de geração solar e por biodigestores.
Estima-se que, em todas as operações agropecuárias, a Carapreta fature cerca de R$ 500 milhões. No ano passado, o ex-CEO chegou a dizer que sonhava com um IPO em 2027. Até lá, pretendia dobrar o grupo de tamanho e ganhar espaço na exportação.
Procurado, Dornas não respondeu às solicitações da reportagem.