Naquele que promete ser o último capítulo da reestruturação que começou no ano passado, a Agrogalaxy acaba de anunciar uma série de medidas para reduzir custos e simplificar a operação, o que inclui o fechamento de 19 lojas e a demissão de cerca de 80 funcionários, especialmente no corporativo.
As mudanças na rede de revendas controlada pelo Aqua Capital também incluem uma transição no comando. O engenheiro Axel Labourt vai assumir como CEO da Agrogalaxy em 1º de março.
Labourt, um argentino que fez carreira na Dow Chemical e Corteva antes de assumir como diretor de operações da Agrogalaxy, já vinha sendo preparado para a missão desde que foi contratado, em 2023.
Com a ascensão de Labourt, Welles Pascoal encerra seu mandato na Agrogalaxy, depois de duas passagens como CEO da rede de revendas, esta última em um momento de muitas reorganizações internas e turbulências no mercado de insumos agrícolas.
Ex-presidente da área agrícola da Dow no Brasil, o executivo mineiro havia reassumido a Agrogalaxy no ano passado para um mandato temporário, quando voltou ao grupo para substituir Sheilla Albuquerque — que se afastou por razões de saúde.
“O meu mandato era criar um sucessor e o Axel é a pessoa com as habilidades necessárias”, disse Pascoal em entrevista a jornalistas nesta terça-feira. A dupla, aliás, já se conhecia desde os tempos de Dow, quando o argentino foi o diretor comercial dos negócios agrícolas no Brasil. Não à toa, Pascoal trouxe o executivo para a Agrogalaxy em 2023, depois que ele deixou o comando da Corteva na Argentina.
Reestruturação
A Agrogalaxy não abriu as economias que fará com as demissões e fechamento de lojas, mas disse que serão relevantes. “Trazem economias significativas, o que nos permite transitar por esse momento de margens mais enxutas com uma estrutura leve”, disse Labourt.
Segundo Eron Martins, diretor financeiro e de relações com investidores da Agrogalaxy, as medidas de simplificação e redução de custos concluem o ciclo de reestruturação e já estavam em estudo desde o primeiro trimestre do ano passado, quando a rede de revendas entendeu que precisava ajustar sua estrutura de capital diante do cenário desafiador.
Para simplificar a gestão, a Agrogalaxy acabou com dois níveis entre o CEO e os representantes técnicos de vendas (RTVs), a grande força comercial da companhia no campo.
Por mais de uma vez, Martins disse que a Agrogalaxy precisa ser tocada como uma revenda, o que exige gestão simples e custos baixos – afinal, as margens são pequenas e não aguentam desaforo. “Estamos trazendo a Agrogalaxy para o patamar de uma revenda, concluindo um processo que os nossos concorrentes só vão começar agora”, disse ele.
Para se ter uma ideia das mudanças, a Agrogalaxy possui um andar de um prédio na Faria Lima, um aluguel que provavelmente será entregue. “A companhia não é uma multinacional. As pessoas precisam estar em Goiânia e Londrina”, resumiu uma pessoa que conhece o negócio.
Nas alterações, o diretor de gestão e gente, Felipe Neufeld, deixa o cargo.
Mudança logística
No processo de revisão, a Agogalaxy também mudou a forma de gestão geográfica do negócio. A partir de agora, serão cinco unidades de negócio regionais, com executivos que se reportarão diretamente ao CEO.
Antes, o negócio de revendas da companhia era dividido em torres, Norte e Sul, com quatro unidades regionais abaixo de cada uma delas. As cinco unidades regionais a partir de agora serão: Sul, Sudeste, Cerrado Leste (Goiás, Maranhão, Piauí, Tocantins, Pará), Cerrado Oeste (Mato Grosso) e Mato Grosso do Sul.
Nesse processo, a Agrogalaxy decidiu fechar 19 lojas, passando a contar com 150 lojas. A área atendida continua a mesma, com atuação em 14 estados do País, mas muita coisa podia ser otimizada. Com as unidades encerradas, os RTVs só mudam a loja para a qual pedem os produtos para os agricultores.
“Seremos uma empresa com estrutura capaz de atravessar momentos conturbados como vimos em 2023 e como ainda pode ser o ano de 2024. Temos que estar preparados”, resumiu Pascoal.
As incertezas climáticas
Labourt, o novo CEO da Agrogalaxy, disse que ainda é cedo para entender como o mercado de grãos vai se comportar ao longo do ano, até porque o clima tem sido instável.
“Até três semanas, todo mundo achava que ia ter uma super produção da Argentina, mas o calor e a falta de chuvas estão impactando a colheita de milho e soja lá”, disse ele.
O primeiro semestre parece ainda ser difícil para os negócios de insumos agrícolas. A esperança é que, com o La Niña, o segundo semestre comece a mostrar uma recuperação.
Para a Agrogalaxy, o alívio é que o grosso do ajuste já foi, com os estoques de insumos da companhia equalizados.
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Os executivos da Agrogalaxy continuam em conversas com os atuais acionistas interessados em participar do aumento de capital privado.
Ainda não há uma data para ocorrer, mas a tendência é que alguns deles acompanhem o Aqua Capital, que adiantou R$ 150 milhões em dezembro.
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Listada na B3, a Agrogalaxy está avaliada em R$ 415 milhões. Reflexo da crise do setor, os papéis caem 73% em doze meses.