Revendas

Agrogalaxy negocia waiver com credores; pedido deve ser aceito, dizem fontes

Rede de revendas não conseguiu atingir o limite de alavancagem de 3 vezes em 31 de dezembro

Depois de um El Niño que tornou as vendas de insumos agrícolas bem mais hostis dos que os distribuidores de insumos gostariam, a Agrogalaxy abriu negociações com os credores do mercado de capitais para pedir um waiver e evitar o vencimento antecipado dos CRAs, uma dívida de cerca de R$ 650 milhões.

Num fato relevante enviado ontem à noite, a Agrogalaxy indicou que deve quebrar o covenant de alavancagem com o qual havia se comprometido na emissão dos CRAs. A cláusula prevê que a companhia deve manter a relação entre dívida líquida e Ebitda abaixo de 3 vezes ao final do exercício fiscal, em 31 de dezembro.

No fim do ano passado, o Aqua Capital (gestora de private equity que controla a rede de revendas) injetou R$ 150 milhões por meio de um adiantamento para futuro aumento de capital, mas o recurso não parece ter sido suficiente para atingir as métricas.

Revenda agrícola da Agrogalaxy

Na prática, as vendas fracas do quarto trimestre — especialmente dos insumos para a safrinha — frustraram as expectativas. O El Niño atrapalhou a recuperação de muitas companhias do setor, como players como Lavoro e UPL já haviam sinalizado.

No quarto trimestre, a Agrogalaxy até conseguiu reduzir a dívida líquida, mas a receita não foi suficiente para atingir o indicador de endividamento. Em setembro, último dado divulgado, a alavancagem estava em 4,2 vezes.

A quebra do covenant

Quando um covenant é quebrado, o credor pode determinar o vencimento antecipado das dívidas, o que criaria um problema de grandes proporções para o fluxo de caixa.

Até aqui, as conversas da Agrogalaxy com os credores foram construtivas e o pedido de waiver deve ser aceito, apurou The Agribiz com alguns dos credores mais importantes.

“Quebrar covenant nunca é bom, mas a companhia está fazendo o dever de casa ao cortar despesa”, disse um credor, sob a condição de anonimado.

Segundo essa fonte, a Agrogalaxy melhorou bastante a transparência com os investidores desde a contratação de Eron Martins, que assumiu como diretor financeiro e de relações com investidores em agosto do ano passado.

Desde que Martins assumiu, a rede de revendas conseguiu rolar cerca de R$ 800 milhões em dívidas com os principais bancos, alongando o prazo para três anos. Também fez um amplo corte de despesas e, mais recentemente, anunciou o fechamento de 19 lojas e 80 demissões.

Arrumando a casa

Ao longo dos últimos meses, a Agrogalaxy vem mantendo conversas mais próximas, explicando as medidas de reestruturação que tomou para cortar despesas.

“Eles estão arrumando a casa antes de muita gente, mas o mercado foi ruim para todo mundo”, argumentou uma fonte que investe nos CRAs, lembrando que 2024 também não será um ano confortável.

“Muitas das medidas de redução de despesas que eles tomaram só vão aparecer nos resultados nos próximos meses”, argumentou uma fonte.

Para outro credor, o vencimento antecipado das dívidas da Agrogalaxy não é uma medida producente. “Não dar o waiver significa que a dívida vence. Quem se beneficia disso? Não faz muito sentido”, disse uma fonte. “Vamos suportar o pedido de waiver”, concordou outro gestor de crédito.

Sem surpresas

Dentro da Agrogalaxy, o pedido de waiver foi feito de uma forma para não pegar os credores de surpresa. A companhia conversou com os principais bancos e assets de crédito do mercado de capitais.

Para formalizar o waiver, a Agrogalaxy já pediu à Vert, a securitizadora responsável pela emissão dos CRAs, que convoque uma assembleia dos detentores dos papéis, um processo que costuma demorar 20 dias.

Os CRAs em questão vencem entre 2026 e 2027, com taxas entre CDI + 4,25 e CDI + 5% ao ano. A dívida faz parte do portfólio de Fiagros de casas como Capitânia (os títulos da Agrogalaxy representam 7,2% do patrimônio), JGP (6,6% do PL) e os dois fundos de agro da XP (XPCA11 e XPAG11).

Vale lembrar que o waiver não afeta os pagamentos dos juros aos credores. O mercado de capitais representa 37% das dívidas da Agrogalaxy.

Neste ano, as ações da Agrogalaxy caem 41%, especialmente após o anúncio do fechamento das lojas. A rede de revendas está avaliada em R$ 343 milhões.