Meteorologia

Com poucas ‘invernadas’, lavouras iniciarão outono com baixa umidade

Quando a chuva cortar de vez, no decorrer do outono, a umidade do solo chegará a valores inferiores ao ideal para o desenvolvimento agrícola muito rapidamente

Estamos provavelmente na última semana de invernada no Brasil. O termo, muito usado pelos agricultores, refere-se a períodos de chuva frequente e elevada umidade —condições que normalmente atrapalham os trabalhos de campo.

Nos próximos dias, a precipitação será mais intensa que o normal em boa parte da região Nordeste e nos Estados de Minas Gerais, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso, Pará e Tocantins. Isso significa que o ritmo das atividades agrícolas será mais lento no centro e norte do Brasil.

Contando com a invernada atual, tivemos apenas três semanas com este tipo de fenômeno desde outubro, início do período úmido. Foram duas em janeiro e agora esta de fevereiro, sem ocorrência na primavera de 2023. Entre 2022 e 2023, a primeira invernada aconteceu no fim de outubro e a segunda, no fim de novembro. Várias outras ocorreram em dezembro de 2022 e janeiro de 2023 sobre o centro e norte do País.

Estamos percebendo que a chuva não tem sido suficiente para criar um grande acúmulo de umidade no solo. Quando a chuva cortar de vez, no decorrer do outono, a umidade do solo chegará a valores inferiores ao ideal para o desenvolvimento agrícola muito rapidamente, possivelmente afetando a segunda safra nas regiões Sudeste e Centro-Oeste.

Vista aérea de plantação de milho; umidade do solo inferior ao ideal pode afetar desenvolvimento da segunda safra | Crédito: Schutterstock

De acordo com a Agritempo, portal da Embrapa, a umidade do solo está na casa dos 40%, abaixo do ideal para o desenvolvimento agrícola, por exemplo, em algumas áreas do oeste de Minas Gerais, sudoeste de Goiás e sudoeste e norte de Mato Grosso. Pensando-se no curto prazo, o efeito negativo na agricultura destas áreas mais secas é temporário, pois ainda há previsão de chuva no centro e norte do Brasil.

Já a região Sul do Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai terão dias menos chuvosos e mais quentes nesta semana. Vale salientar que especificamente nestas áreas, a semana de Carnaval foi mais úmida e a precipitação foi providencial para estancar perdas na Argentina e diminuir a preocupação de produtores gaúchos com a estiagem que prometia roubar algumas sacas de soja.

A partir do próximo fim de semana, a “gangorra da chuva” mudará de posição no Brasil. Enquanto Centro-Oeste e Sudeste terão um período bem mais seco e quente, a chuva forte migrará para o Sul. No Matopiba, a chuva não irá cortar completamente, mas virá bem mais fraca.

A tendência é de que esta nova configuração prossiga sobre o Brasil até aproximadamente 05 de março. Em meados de março, até há previsão de aumento da precipitação sobre a maior parte do país, mas ainda não há configuração de uma invernada.

Tempestade Akará

Desde o fim da semana passada, um sistema de baixa pressão atmosférica aproveitou-se das águas quentes do Atlântico para intensificar e dar origem a uma Tempestade Tropical, denominada pela Marinha do Brasil como “Akará” (um tipo de peixe comum na região Amazônica).

Nos próximos dias, Akará permanecerá distante da costa e não trará danos ao continente. Seus efeitos serão percebidos em alto-mar, exigindo cautela por parte de navegadores e aeronautas.

Akará perderá força na segunda metade desta semana quando avançar para sul, por águas mais frias.

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Celso Oliveira, colunista do The AgriBiz, é meteorologista com mais de 20 anos de experiência em análises climáticas para a agricultura. Atualmente, é diretor de operações da Prisma Meteorologia e analista do grupo Safira.