O vice-presidente Geraldo Alckmin estava em uma plateia propícia para torpedear a indústria de recuperação judicial que atormenta muito gestor de Fiagro na Faria Lima, mas não mordeu a isca.
Habilidoso, fez várias brincadeiras com o público de investidores que acompanhou um painel realizado ontem à tarde na sede da Galapagos Capital, a gestora de Carlos Fonseca que vem lidando com as agruras das RJs de produtor rural.
Paulo Souza, presidente da Cargill no Brasil, foi o primeiro a levantar o tema durante o painel. “Está havendo uma onda de recuperação judicial. Isso traz uma insegurança para o financiador. Quando existe essa ameaça, o capital tende a buscar destinos mais tranquilos”.
Sergio Waib, o mediador da conversa, bem que tentou arrancar algo de Alckmin. “Ainda existe uma distância bastante grande entre a Faria Lima e o agronegócio, e há um fator presente que está atrapalhando ainda mais essa relação, que é a questão das recuperações judiciais que vêm ocorrendo. Muitas vezes, as garantias são desconsideradas. Vice presidente, como o senhor enxerga essa situação?”
Na resposta, o vice-presidente tergiversou, com considerações genéricas sobre custo de capital, impostos e concorrência no mercado de crédito.
“O custo de capital faz diferença. Se eu produzo com custo alto e meu concorrente custo de capital baixo, ele vai levar uma vantagem enorme. Então, por que os juros são tão altos? É imposto? Então, precisa reduzir. Falta concorrência? Então, precisa ter mais concorrente”, disse ele, como se estivesse respondendo a uma questão completamente diferente.
Alckmin fez apenas uma citação às garantias no crédito, citando a aprovação do marco legal das garantias, sancionado pelo presidente Lula no ano passado.
Se alguém esperava que o governo entrasse na luta contra as recuperações judiciais, a resposta do vice-presidente certamente frustrou. Alckmin, que de bobo nada tem, não comprou briga com o agricultor, um público já reticente ao atual governo e que, nos últimos meses, vem buscando medidas para reorganizar as dívidas.
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Após o fim do painel, Carlos Fonseca bateu um papo rápido com os jornalistas. Voltou a enfatizar a necessidade de segurança jurídica para exercer as garantias. No GCRA11, o Fiagro da Galapagos, há duas companhias em recuperação judicial (Elisa Agro e Três Irmãos).
Nos dois casos, as terras foram dadas em alienação fiduciária, um tipo de garantia que legalmente fica de fora da recuperação judicial. Em tese, o fundo poderia executar as terras, mas na prática esses casos se arrastam na Justiça, em discussões sobre a essencialidade do bem para o agricultor.
Fonseca disse que, antes do painel, Alckmin se mostrou sensibilizado com o tema, mas não adiantou qualquer medida. “Cabe ao governo avaliar”.
Para bom entendedor, um pingo é letra.