O plantio do milho safrinha continua acelerado em relação ao ano passado. Até o dia 3 de março, o cereal foi instalado em quase 75% das áreas —no mesmo período do ano passado, esse percentual estava um pouco abaixo de 65%, segundo a Conab. Para quem entrou no último mês do verão sem plantar, as previsões pedem cautela: a chuva não irá prosseguir por muito tempo.
Simulações com horizonte de 45 dias indicam acumulados de chuva inferiores aos 10mm por semana após 10 de abril, começando pelo norte de Minas Gerais. Precipitações abaixo desse patamar não são suficientes para manter a umidade do solo, que irá diminuir gradativamente.
Para áreas de milho instaladas muito tardiamente, as plantas, ainda pequenas, permitirão a passagem de radiação solar direta no solo, acelerando o processo de diminuição da umidade do solo e afetando o desenvolvimento agrícola ainda no meio do ciclo.
Segunda quinzena de abril
A tendência de diminuição da chuva avançará por mais regiões e, a partir do início da segunda quinzena de abril, alcançará toda a bacia do São Francisco pelo Estado de Minas Gerais, Triângulo Mineiro, sul de Minas Gerais, sul da Bahia, boa parte do Estado de São Paulo e o leste dos Estados de Mato Grosso do Sul e de Goiás.
É difícil imaginar que existirá energia suficiente na atmosfera para que episódios de chuva forte aconteçam sobre essas áreas no fim de abril e, ao longo de maio, revertam a diminuição da umidade do solo.
Como ainda estamos sob efeito do fenômeno El Niño, a tendência é de que as maiores precipitações fiquem “presas” sobre o Rio Grande do Sul, Santa Catarina, oeste e sul do Paraná e sul de Mato Grosso do Sul nesse período.
Chuva forte ajuda a Argentina
Da mesma forma que há previsão de chuva forte para o Rio Grande do Sul, a precipitação também alcançará a Argentina nas próximas semanas. A umidade do solo tem aumentado a cada semana de acordo com dados da Bolsa de Cereais de Buenos Aires —e tudo indica que a situação não mudará em breve.
Após preocupações e algumas perdas no início do verão pelo calor e estiagem, a chuva tornou-se mais frequente no país vizinho.
Menos cana em 2024/25
Em boa parte das áreas produtoras de cana-de-açúcar do centro e sul do Brasil, a chuva quase nunca regularizou na primavera e verão, com exceção de outubro de 2023. A estiagem não foi severa, mas foi persistente e isso foi minando a produtividade aos poucos.
E diferentemente do Rio Grande do Sul e da Argentina, a precipitação enfraquecerá gradativamente em março e abril. A região do Vale do Paranapanema, entre os Estados de São Paulo e do Paraná será uma das que receberá menor acumulado de chuva até meados de abril.
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Celso Oliveira, colunista de The AgriBiz, é especialista em tempo e clima da Safira Energia. Atua há mais de 20 anos em análises climáticas para a agricultura.