Jeitinho brasileiro

Na Nutrien, o produtor faz barter e pode lucrar na alta da soja

Gigante global na distribuição de insumos vem fortalecendo sua estratégia em barter, que dá mais segurança à revenda e ao produtor

A Nutrien, maior fornecedora de insumos agrícolas do mundo, decidiu acelerar o jeito brasileiro de fazer negócios em busca de mais segurança e maior participação de mercado. A empresa quer atingir 40% de seu faturamento em operações de barter este ano no Brasil, acima da média do mercado, estimada em 30%.

“Para a empresa é bom, para o produtor é ótimo. Ele diminui o risco para tudo, tanto de preço das commodities, dos fretes e de capacidade de armazenagem”, afirma Guilherme Narducci, gerente de grãos da Nutrien no Brasil.

Com origem no Canadá, a empresa vem aumentando a participação do barter no faturamento no Brasil. Em 2023, cerca de 25% das vendas da Nutrien no País ocorreram por meio de barter. No ano anterior, foram 10%.

Criado no Brasil devido à necessidade de financiamento aos agricultores em meio ao cenário de elevadas taxas de juros, o barter consiste na troca de insumos por grãos. O agricultor paga essa compra a prazo, com parte de sua produção, a um valor pré-estabelecido. A operação, que possibilita ao agricultor travar seus custos, também significa um menor risco de inadimplência para as revendas.

Assim como todas as empresas do setor, a Nutrien passou por um ano difícil no Brasil em meio a elevados estoques, que foram formados a preços altos e acabaram sendo vendidos a preços mais baixos devido a uma deterioração das condições de mercado.

O Ebitda e o lucro consolidados da companhia caíram mais de 80% em 2023, segundo os números ajustados divulgados em fevereiro. A empresa fez uma baixa contábil de US$ 700 milhões relacionada aos negócios de varejo no ano passado, boa parte deles na América do Sul. Só no segundo trimestre, foram US$ 465 milhões na região.

Para 2024, a perspectiva é de recuperação. “2023 foi um ano difícil para o mercado como um todo e de um aprendizado importante. Estamos otimistas para 2024”, resumiu Narducci.

A Nutrien apresentou ao mercado uma estimativa de Ebitda entre US$ 1,65 bilhão e US$ 1,85 bilhão neste ano, o que representaria um crescimento de 10% a 23% em relação a 2023.

Em relação à operação brasileira, a matriz disse esperar uma recuperação nas margens das vendas de defensivos no segundo semestre. A companhia também prevê uma forte importação de fertilizantes no segundo e terceiro trimestres, estimulada por um aumento na área de soja.

Super barter

A Nutrien já colocou no mercado a tabela de preços de insumos para 2024/25 e conta com cerca de 900 consultores no campo para mostrar ao produtor a relevância de travar os custos para manter rentabilidade, uma lição de casa que muitos deixaram de fazer na safra 2023/24.

Em média, os sojicultores venderam entre 30% e 35% da produção esperada na safra atual, segundo Narducci. “Esse percentual deveria estar muito próximo de 60%”, afirmou. “O produtor que não travou os custos hoje está vendendo soja mais barata e está reduzindo sua margem. Existe uma preocupação em relação ao nível de rentabilidade do produtor”, acrescentou.

A Nutrien está, inclusive, comprando soja de produtores que não fizeram barter para travar os custos e agora buscam pagar as contas com a entrega de mercadoria, segundo o executivo.

Para chegar à meta nas vendas de barter, a Nutrien aposta em serviços adicionais ao produtor, como o seguro agrícola ou o “super barter”. Neste último, a Nutrien oferece ao agricultor a possibilidade de contratar uma espécie de opção de venda com o objetivo de participar de uma valorização dos grãos. Dessa forma, a Nutrien endereça uma das principais preocupações do produtor quando vende antecipadamente a sua produção: não aproveitar uma eventual alta do mercado nos meses seguintes.

“Nosso ponto principal para 2024/25 é o ‘one time shopping’. Queremos que o produtor venha para dentro de casa e consiga ter todos os tipos de serviços sem burocracia”, diz Narducci. “Somos uma empresa de grãos e queremos mostrar isso para o mercado”.

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A Nutrien é resultado da fusão da Potash Corp, produtora global de fertilizantes, e da Agrium, gigante do varejo agrícola, anunciada em 2018. Nos últimos anos, fez oito aquisições para crescer no Brasil.

A companhia está avaliada em US$ 23 bilhões na bolsa de Nova York.