Se vez ou outra é questionado pelas mudanças de estratégia, o empresário Marcos Molina, controlador da Marfrig — e, por tabela, também da BRF—, agradou aos analistas nesta quarta-feira, trazendo previsibilidade para os próximos passos da gigante de R$ 136 bilhões em faturamento.
Na bolsa, as ações da Marfrig dispararam, em reação positiva aos resultados do quarto trimestre, divulgados ontem à noite, e também às mensagens dadas pela companhia. Às 14h, os papéis subiam 10,8%, a segunda maior alta do Ibovespa.
Durante teleconferência pela manhã, Molina elencou as prioridades para Marfrig em 2024, o que ajuda a minimizar as preocupações sobre a alocação de capital da companhia. Para os analistas, a desalavancagem da companhia deveria ser uma prioridade, o que o empresário confirmou.
Como ainda vai receber R$ 6 bilhões da Minerva pela venda de um conjunto de frigoríficos — o que ainda depende da aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) —, muitos ainda se perguntavam se Molina utilizaria a liquidez para comprar mais ações da dona da Sadia ao invés de reduzir o endividamento.
“A maior parte é para reduzir a dívida bruta”, garantiu o empresário. No fim de dezembro, a dívida bruta da Marfrig atingiu R$ 56,5 bilhões, com quase 85% vencendo no longo prazo.
Participação na BRF
A fusão entre BRF e Marfrig, reiterou Molina, está longe de ser uma prioridade de curto prazo. “Não estou preocupado em juntar operação. A parte societária não é o foco da companhia”.
No fim do ano passado, o índice de alavancagem atingiu 3,72 vezes — abaixo das 3,91 vezes registradas em setembro. Quando se considera apenas a participação de 50% que a Marfrig detém na BRF e as despesas com arrendamento, a alavancagem estaria em 5 vezes, pelos cálculos dos analistas Thiago Duarte e Henrique Brustolin, do BTG Pactual.
Para consolidar a posição de controle na BRF, a Marfrig investiu cerca de R$ 13,5 bilhões desde 2021, considerando um preço médio de próximo de R$ 16 por ação. A companhia aumentou fortemente a participação no ano passado — um investimento de quase R$ 3 bilhões —, saindo de 33% (após o fim da poison pill) para os atuais 50,08%.
Aos analistas, Molina lembrou que a Marfrig foi a única empresa do setor a não distribuir dividendos no ano passado. Ao contrário, o controlador injetou no aumento de capital da companhia, financiando o aumento da participação na BRF preservando os níveis de alavancagem. “Eu aportei R$ 1,8 bilhão, pessoalmente”, citou.
Atualmente, Molina e a esposa Márcia Marçal possuem 64% da Marfrig.
Sinergia e venda para Minerva
No lado operacional, ainda há muito a fazer na BRF, disse Molina. No ano passado, a dona da Sadia conseguiu melhorar o Ebitda em mais de R$ 3 bilhões com o programa de eficiências BRF+, reduzindo perdas com produtos perto do vencimento e melhorando os indicadores de conversão alimentar, produtividade industrial e logística.
Para 2024, Molina vê uma potencial de captura mais R$ 1,8 bilhão com o BRF+, o que tem potencial para engodar as margens da dona da Sadia neste ano, aumentando as chances de transformar a companhia em uma boa pagadora de dividendos para a Marfrig.
Nos negócios de carne bovina da América do Sul, o foco é concluir o processo de venda de ativos para a Minerva e dar sequência à otimização dos parques industriais que restarão, com a ampliação da capacidade de abate em Várzea Grande (MT), Promissão (SP) e nas unidades de San Jorge, na Argentina, e Tacuarembó, no Uruguai.
Conservador, Molina acredita que o Cade só vai aprovar a venda dos ativos para a Minerva entre o fim do terceiro trimestre e o início do quarto trimestre. Segundo ele, esse período já era esperado pela companhia, que sempre trabalhou com um prazo entre nove e onze meses para a aprovação.
A demora, no entanto, custa mais caro à Minerva, que precisa pagar a correção do CDI pelos R$ 6 bilhões que ainda deve. No início da semana, o diretor financeiro da Minerva, Edison Ticle, foi um pouco otimista com o prazo para a aprovação do deal. Segundo ele, o aval do órgão antitruste poderia ocorrer no segundo trimestre.
Nos Estados Unidos, a Marfrig conta com a redução do nível de capex da National Beef, o que dará uma economia importante em um momento de gado mais caro. Nos últimos anos, a National investiu cerca de US$ 800 milhões.
Em bolsa, a Marfrig está avaliada em R$ 9,4 bilhões. Em doze meses, os papéis sobem quase 5%.