As operações de barter devem ganhar participação no financiamento da safra 2024/25 no Brasil. Indústrias e revendas de insumos agrícolas têm aumentado a oferta desse tipo de financiamento para reduzir o risco de inadimplência em meio à queda no preço das commodities e uma recente frustração na colheita.
“As revendas estão olhando muito para o barter”, afirma Marcos Oliveira, head de operações de commodities da Lavoro, a maior distribuidora de insumos agrícolas do Brasil. “As multinacionais também têm ofertado benefícios e descontos nessa modalidade. É uma segurança.”
O diretor de marketing da BASF no Brasil, Hugo Borsari, disse em entrevista recente ao The AgriBiz também esperar um aumento nas operações de barter nas vendas da empresa no País este ano. “O agricultor vai buscar mais o barter até como forma de hedge”, disse.
Criado no Brasil para suprir uma lacuna no financiamento aos agricultores em meio à escassez de recursos do governo e um ambiente de elevadas taxas de juros, o barter consiste na troca de insumos (fertilizantes, sementes ou agroquímicos) por grãos que ainda serão produzidos. É uma venda a prazo por um valor pré-estabelecido. Depois da colheita, o produtor paga a sua dívida com a revenda ou indústria entregando parte da produção.
Sob a perspectiva do agricultor, a operação é atrativa porque permite que ele trave os seus custos de produção. Para os vendedores (revendas ou fabricantes), o barter significa um menor risco de inadimplência.
Faltou o barter
Mitigação de riscos foi justamente o que faltou nas últimas safras e explica parcialmente o aumento nos níveis de inadimplência que afetam o setor de insumos em todo o País. Entre 2020 e 2022, período de alta das commodities, o produtor reduziu a demanda por barter, preferindo vender a soja ou o milho mais perto da colheita —”da mão para a boca”, no jargão do mercado.
“No final da safra, acabou tendo uma parcela muito grande da produção sem estar vendida. Isso explica muito a situação difícil que estamos vivendo. Depois de três anos de safras boas, o produtor acabou deixando de lado a estratégia de mitigação de riscos”, afirma Oliveira.
Para o executivo da Lavoro, o agricultor brasileiro se preocupa pouco com o gerenciamento de risco, e se esquece que a frustração de safra pode ser também financeira. “É um comportamento muito diferente do agricultor americano, que tem o costume de vender de forma muito antecipada”, diz.
Barter e derivativos
Nos últimos 20 anos, as operações de barter vêm crescendo e amadurecendo no Brasil. Para atrair uma parcela maior de agricultores —especialmente os que temem ficar de fora de uma alta dos grãos —, as revendas e os fabricantes de produtos agrícolas têm incluído ferramentas de hedge nos contratos de barter.
A Lavoro, por exemplo, oferece duas opções. Uma delas consiste numa opção de compra da soja que permite que o produtor participe da alta da commodity caso o preço suba. Na outra, a conta do agricultor —que neste caso será paga em dinheiro— está indexada ao preço da soja. “Se o preço cair, damos um desconto proporcional para o agricultor”, conta Oliveira.
A Nutrien, líder global na distribuição de insumos agrícolas, também oferece produtos semelhantes para atingir 40% do seu faturamento no Brasil este ano por meio de operações de barter, acima da média do mercado, estimada em 30%. Em seu “super barter”, a empresa oferece ao agricultor a possibilidade de contratar uma espécie de opção de venda com o ovjetivo de participar de uma eventual valorização dos grãos.
“A principal dor do agricultor hoje é o preço das commodities. Então nós estamos incentivando a utilização do barter através da valorização da commodity, com contratos de derivativos que apoiem o agricultor em caso de alta dos grãos. Temos várias ferramentas para atender o agricultor de acordo com as suas necessidades”, diz Borsari, da BASF.
O ritmo dos negócios, no entanto, continua lento. “Os produtores estão muito apegados ao preço, mas deixam de olhar a relação de troca, que está favorável em termos históricos”, afirma Oliveira, da Lavoro.
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