Meteorologia

Chuva paralisa colheita da soja no Rio Grande do Sul —e ainda restam 24% no campo

Embora as previsões até indiquem uma trégua da chuva no início da semana que vem, o período sem precipitação não será suficiente para finalizar a colheita no Estado

As fortes chuvas no Rio Grande do Sul, causadas por um bloqueio atmosférico, paralisaram as atividades de campo num dos Estados agrícolas mais relevantes do País. O que mais preocupa: Ainda restam 24% das áreas de soja para serem colhidas, segundo a Emater (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural).

Embora a maior parte esteja na metade sul do Estado e na fronteira oeste —área menos afetada pelos temporais—, a chuva mesmo fraca deixa o grão com elevada umidade e dificulta a colheita e o transporte. Nas regiões de Erechim, Passo Fundo e Ijuí, o percentual de finalização da colheita varia entre 85% e 93%.

Embora as previsões até indiquem uma trégua da chuva no início da semana que vem, o período sem precipitação não será suficiente para finalizar a colheita no Rio Grande do Sul. Novos temporais atingirão o Estado, sobretudo o norte gaúcho, no mais tardar a partir da sexta-feira da semana que vem.

Em dez dias, simulações atmosféricas, como a europeia ECMWF indicam acumulados acima dos 300 milímetros nas regiões de Passo Fundo e Palmeira das Missões, e entre 200mm e 300mm em Erechim e Caxias do Sul — fora o acumulado de até 600mm já registrado nos últimos quatro dias em alguns municípios. Boa parte dos rios da região converge para o Guaíba, na capital Porto Alegre, que deverá registrar uma das maiores inundações de sua história.

É grande a chance de piora na qualidade da soja a ser colhida. Municípios inteiros e, por consequência, fazendas estão isoladas pelas inundações, sem perspectiva de melhora nos próximos dias.

Apesar de o aquecimento do Pacífico central equatorial estar cada vez menor, o fenômeno El Niño ainda é capaz de provocar grande acumulado de chuva sobre a região Sul. As precipitações começaram em setembro passado, deram uma pequena trégua em janeiro e fevereiro, mas retornaram posteriormente.

Previsões mais estendidas indicam que apenas no decorrer de junho a chuva enfraquecerá de forma mais significativa sobre o Rio Grande do Sul, momento em que aparecerão algumas janelas para o plantio das culturas de inverno.

O calor no resto do Brasil

Enquanto o bloqueio atmosférico não rompe, a maior parte do Brasil atravessa um período sem chuva e com temperaturas muito elevadas. Nos próximos 15 dias, a temperatura mínima ficará até 4°C acima do normal e as máximas alcançarão desvios de impressionantes 8°C para cima no Paraná, São Paulo e Mato Grosso do Sul.

Para a colheita, como a de cana de açúcar, as condições são favoráveis, porém ainda há muita lavoura de milho que precisa de chuva para o seu desenvolvimento final.

Seca na Amazônia voltará à pauta

A chuva um pouco mais intensa dos últimos meses serviu para diminuir os efeitos da estiagem na região Amazônica. A questão é que o acumulado não foi suficiente para uma cheia prolongada. O Rio Madeira está com dez metros de profundidade em Porto Velho, dentro do normal, porém insuficiente para que a hidrovia consiga se manter durante todo o período de vazante.

Algumas projeções feitas pelo Sistema Geológico do Brasil, em meados do mês passado, indicaram que o nível poderá cair para menos de quatro metros de profundidade em julho, restringindo a navegação noturna por parte da Marinha do Brasil. Entre os vários produtos transportados, a hidrovia é um importante escoadouro da produção de soja e milho.

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Celso Oliveira, colunista de The AgriBiz, é especialista em clima e tempo da Safira Energia. Atua há mais de 20 anos em previsões climáticas para a agricultura.