A Granja Faria, uma das maiores produtoras de ovos do Brasil, vai doar um milhão de ovos — equivalente a R$ 700 mil — a centros de desabrigados no Rio Grande do Sul. A quantidade total será doada ao longo de 30 dias, para instituições determinadas pelo governo local.
As doações começam a ser distribuídas nesta segunda-feira. Nesse primeiro momento de uma grande quantidade de regiões alagadas, os ovos vêm do Paraná e de São Paulo. A ideia é que, num segundo momento, quando a água efetivamente baixar, os ovos também venham do próprio Estado.
“A Granja Faria tem uma história muito enraizada com o Rio Grande do Sul. Eu sou formado por uma universidade do estado, sou gremista, e nós temos mais de 400 colaboradores na região. Temos um compromisso muito forte com o estado e estamos fazendo nossa parte ao montar um plano de doação”, disse o Ricardo Faria ao The AgriBiz.
Atualmente, o Rio Grande do Sul representa 10% do faturamento da Granja Faria, o equivalente a R$ 180 milhões. No ano passado, a companhia faturou R$ 1,8 bilhão em todo o País.
De acordo com o empresário, as chuvas não trouxeram um impacto equivalente em termos financeiros. “A empresa continua no ritmo dela, alinhada com o guidance que o mercado tem. Não teremos transtornos financeiros por causa disso. É uma tragédia muito mais social do que econômica”, diz.
O impacto nas granjas gaúchas
No Rio Grande do Sul, a Granja Faria tem três operações. Uma está em Nova Prata, cidade que ficou ‘cortada’ por um rio no meio do território. Apesar da grave situação no local, a operação da empresa estava em uma área mais alta da cidade, que não sofreu nenhum tipo de alagamento ou desmoronamentos. Há ali, ainda, uma fábrica de ração, o que permitiu que as aves se alimentassem, mesmo com os desafios logísticos.
“O que não conseguimos? Expedir ovos por quatro dias [geralmente, isso é feito diariamente]. Estamos tendo que percorrer estradas mais longas para chegar aos nossos clientes, etc. Nessa cidade tivemos a situação mais tranquila dentro do possível”, diz Faria.
A outra operação da Granja Faria na região está em Farroupilha. Na cidade, a granja ficou ilhada por seis dias, o que significa que os ovos ficaram estocados durante todo esse período. No local, também havia estoque suficiente de ração para as galinhas, o que permitiu que se alimentassem normalmente.
“Para ter uma ideia, a Granja Faria supriu a rede Záffari com ovo vindo de São Paulo. Mandamos ovos a mais de 1.500 quilômetros de distância porque, a 100 quilômetros, não conseguíamos chegar a Porto Alegre. Tomamos a decisão de não aumentar preços mesmo assim. Operamos mercado, não operamos desgraça”, diz Faria.
A terceira granja, por fim, foi a que teve a situação mais dramática. Localizada próxima ao Rio Taquari, numa cidade chamada Fazenda Vila Nova, a granja está a 60 metros de altura (o rio subiu 35 metros). Ou seja, a operação em si não foi alagada, mas a granja está ilhada há uma semana. Nessa granja, ao contrário das demais, não há fábrica de ração.
A decisão que a empresa tomou, nesse cenário, foi a de reduzir a alimentação das galinhas em 50% e de diminuir a luz nos aviários para que as galinhas pudessem dormir mais. Em vez de oito horas por dia, as aves estão dormindo de 12 horas a 13 horas por dia.
“Conseguimos comprar farelo de milho na região e, hoje, temos alimentação para mais uma semana garantida. Em uma semana, acreditamos que algumas estradas estarão desbloqueadas e será possível chegar ração no local”, diz Faria.
Nas contas do executivo, apesar de a produção ser retomada em cerca de uma semana, a normalização efetiva do cenário deve levar pelo menos seis meses — considerando principalmente a reconstrução de infraestrutura no estado. Hoje, a Granja Faria, por exemplo, está percorrendo uma distância 30% maior para chegara Uruguaiana e conseguir despachar os ovos dali para o Chile.
“Porto Alegre ainda está bem difícil de atender, por isso estamos anunciando a doação nesse momento”, diz Faria.