As notícias sobre os impactos das fortes chuvas no Rio Grande do Sul no abastecimento de arroz estão levando a uma corrida pelo produto, segundo Luciano Quartiero, CEO da Camil, empresa líder nesse mercado. O empresário garantiu, no entanto, que não há risco de faltar arroz nas prateleiras.
“Estamos vendo um aumento da demanda muito semelhante ao que aconteceu no início da pandemia”, disse Quartiero durante call com analistas nesta sexta-feira. “Os clientes estão pedindo acima do histórico e alguns estão limitando as compras de arroz (nos pontos de venda). Estamos nos esforçando para fazer a distribuição em todo o País para tentar amenizar esse impacto.”
Os preços também estão em alta. Nos últimos dez dias, período em que as chuvas se intensificaram e os prejuízos começaram a ser constatados no Rio Grande do Sul, os preços do arroz subiram cerca de 15%, segundo o CEO.
Mesmo com a colheita avançada, os valores praticados hoje são os mesmos vistos durante a entressafra, entre R$ 120 e R$ 125 a saca, disse ele.
Apesar das fábricas da Camil no Rio Grande do Sul não terem sido afetadas pelos alagamentos, os efeitos do estado de calamidade nas operações são inevitáveis. O principal desafio é o logístico, o que também já impacta os custos, pois a companhia precisa encontrar rotas alternativas para transportar os produtos.
“Há cerca de 80 pontos de interdição parcial ou total em mais de 40 rodovias no Rio Grande do Sul”, afirmou.
O Rio Grande do Sul é o maior produtor de arroz do País, respondendo por cerca de 70% da safra nacional. Análises preliminares indicam que os temporais vão levar a produção nacional a um nível “levemente inferior” ao do ano passado, quando já havia sido baixa. Antes dos temporais que arrasaram o Estado, os arrozeiros gaúchos haviam concluído 80% da colheita.
“Não existe risco de desabastecimento de arroz. Mas, com certeza, teremos um impacto de curto prazo por causa dessa maior demanda”, disse o CEO.
Apesar de descartar o risco de faltar arroz, Quartiero comentou que o nível dos estoques nos varejistas está mais baixo do que o normal devido a um atraso de aproximadamente 60 dias no início da colheita. Normalmente, em março o ritmo dos trabalhos já está forte, mas, em 2024, eles aceleraram apenas no final de abril devido a condições climáticas desfavoráveis.
Esse atraso na entrada da nova safra e os problemas logísticos no Rio Grande do Sul devem levar a uma queda no volume de arroz comercializado pela companhia no primeiro trimestre, que compreende os meses de março a maio na demonstração de resultados da Camil, sinalizou Quartiero.
Novos produtos
Durante o call realizado para apresentar os resultados do quarto trimestre de 2023 —período entre dezembro e fevereiro de 2024 —, o CEO da Camil anunciou alguns lançamentos que devem chegar aos supermercados em breve. Em 60 dias, a empresa deve lançar cápsulas de café da marca União, que também deve contar com uma linha de café gourmet.
Na categoria de massas, a Camil vai lançar no Estado de São Paulo produtos com a marca de origem, muito forte na venda de grãos (arroz e feijão). “Sentimos uma receptividade muito boa entre os nossos clientes”, disse.
A receita líquida da Camil somou R$ 2,7 bilhões no quarto trimestre, uma alta de 6,8% em relação ao mesmo período do ano anterior. Em 12 meses, ela cresceu 10%, para R$ 11,25 bilhões. O Ebitda ajustado no ano ficou em R$ 914 milhões, com uma expansão de 17,5%. A margem Ebitda ajustada ficou em 8,1%.
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Por volta das 13h30, as ações da Camil subiam 2% na B3. Em 12 meses, os papéis valorizaram mais de 33%. A empresa está avaliada em R$ 3,1 bilhões na Bolsa.