Além de toda a tragédia social causada pela chuva no Rio Grande do Sul, a agricultura foi fortemente impactada pelo evento. Ainda não é possível estimar todos os prejuízos causados pelas inundações, pois muitas análises foram interrompidas pela impossibilidade de chegar às áreas produtoras. Mas algumas informações começam a ser divulgadas.
Segundo a Emater (empresa de assistência técnica rural do Estado), a colheita de soja avançou de forma precária em poucas áreas na última semana, elevando o percentual de finalização dos trabalhos a 78% do total no dia 9 de maio —na semana anterior, ele estava em 76%. Uma boa parte dos 22% restantes foi perdida.
A área de colheita do milho aumentou de 83% para 86%. Assim como na soja, áreas inteiras de milho se perderam no Vale do Jacuí e na Serra Gaúcha. Os estragos ainda são contabilizados pela Emater.
O arroz é outra cultura afetada. A área que estava mais atrasada na colheita era justamente a Depressão Central, mais atingida pelas inundações da semana passada. Mas também há relatos de perdas na Fronteira Oeste e na Metade Sul do Estado.
A chuva vai parar?
A questão agora é saber quando os episódios de chuva acabarão. Vale salientar que, entre outros motivos, a chuva forte no Rio Grande do Sul esteve associada à formação de um persistente bloqueio atmosférico. Ventos fortes na alta atmosfera seguraram as frentes frias chuvosas sobre o Estado. Para piorar, houve um grande transporte de umidade da Amazônia alimentando os sistemas frontais.
Embora até existam previsões de algumas tréguas, elas não serão suficientes para diminuir de forma significativa a umidade do solo e o nível do Guaíba e da Lagoa dos Patos.
Simulações mais estendidas indicam que, ao longo de junho, os ventos fortes na alta atmosfera e o transporte de umidade da Amazônia permanecerão sobre o Estado. Tanto que aparecem repiques de chuva forte não apenas neste próximo fim de semana, mas na quinta-feira da semana que vem, entre 21 e 24 de maio e por volta dos dias 4 e 12 de junho.
Na melhor das hipóteses, as simulações indicam chuvas menos intensas na segunda quinzena de junho. Somente em julho, aparece de forma mais efetiva a desconfiguração deste padrão de ventos que atualmente ancora a chuva sobre o Estado.
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Celso Oliveira, colunista de The AgriBiz, é especialista em clima e tempo da Safira Energia. Atua há mais de 20 anos em previsões climáticas para a agricultura.