Mesmo em um início de ano desafiador para o mercado de insumos, a Boa Safra comemorou a marca de R$ 1 bilhão em “encomendas” no final de março, um aumento de 7% em relação ao mesmo período do ano anterior.
“Nós vimos um atraso nas compras dos produtores, refletindo a expectativa de que o preço da soja suba. Isso também afeta a compra de sementes, é claro. Mesmo assim, batemos um recorde para o período”, afirma Felipe Marques, diretor financeiro e de RI da Boa Safra.
Em um trimestre que diz pouco a respeito do que o ano reserva para a Boa Safra, a carteira de pedidos foi o destaque do balanço divulgado na noite de terça-feira, principalmente considerando os atrasos generalizados na compra de insumos para a safra 2024/25, observaram Thiago Duarte e Henrique Brustolin, analistas do BTG Pactual, em relatório.
Sazonalmente, a empresa tem uma concentração de pedidos feitos no primeiro semestre, com a maior parte da receita entrando efetivamente no caixa ao longo do segundo semestre. Por isso, as atenções nesta divulgação de resultados estiveram mais concentradas nos impactos que a retração nas margens dos produtores pode provocar na cadeia e, é claro, nos planos de expansão após o follow-on de R$ 300 milhões no mês passado.
Segundo o diretor-financeiro da Boa Safra, a companhia não sofre um impacto significativo em inadimplência, mas sim da extensão do prazo de pagamentos por parte do produtor. Os atrasos são, em média do setor, inferiores a 30 dias.
Nesse cenário, o caixa reforçado da Boa Safra é um trunfo importante. Até março, a Boa Safra contava com uma posição de caixa, equivalentes e valores mantidos em títulos e valores mobiliários de R$ 713 milhões, mais do que o dobro do mesmo período do ano anterior. Se consideradas as cotas do Fiagro da empresa que ainda não foram vendidas, há ainda uma adição de liquidez de R$ 64 milhões.
Vai faltar semente?
Refletindo os desafios de um ano com plantio desafiador para a soja, a Boa Safra acelerou os investimentos realizados em área contratada para a produção de sementes.
Na safra 2022/23, foram 144 mil hectares dedicados a essa atividade (crescimento de 37% em relação ao ano anterior). Na safra 23/24, essa área aumentou outros 58%, totalizando 227 mil hectares. Com a expansão, a empresa conseguiu aumentar os tipos de semente que oferece, chegando hoje a 70 variedades de soja.
A expansão dá conta da capacidade de 240 mil big bags (aumento de 20% em relação a 2023) e tem como objetivo deixar a companhia mais preparada diante dos desafios climáticos.
Questionado a respeito da oferta de sementes de soja precoce, que teve o plantio mais castigado pelo El Niño, Marques se limita a dizer que o ano de 2024 tem “desafios importantes”.
“Não queremos falar de forma tão específica a respeito das variações de soja neste início de ano, mas, dependendo dos ciclos de maturação, em 2024 podem acontecer restrições de oferta”, diz.
“Ex-soja”
O resultado do primeiro trimestre também mostrou um avanço importante em culturas de segunda safra, com um aumento de 58% em geração de receita a partir de sementes ‘ex-soja’, totalizando R$ 29 milhões em faturamento.
“São culturas que, consolidadas, ainda são muito relevantes. Chegam perto da área plantada da soja, no fim do dia. Fizemos um esforço relevante para investir nisso ao longo de 2023 e os resultados estão começando a aparecer”, diz Marques.
Desde o IPO, a companhia já investiu mais de R$ 600 milhões em capex, com boa parte dos recursos sendo direcionada a otimizar a infraestrutura para sementes, de modo geral, indo além da soja.
Neste ano, o foco dos recursos — pensando em crescimento orgânico — será o aumento de centros de distribuição, como adiantou o CEO Marino Colpo ao The AgriBiz. Até aqui, a Boa Safra vinha inaugurando um CD por ano e, só no primeiro trimestre de 2024, já anunciou dois novos centros de distribuição. Por enquanto, a companhia tem um orçamento aprovado para investimentos de R$ 140 milhões.
“Os investimentos feitos neste ano têm uma ótica muito mais de olhar para 2025 do que para 2024. No último ano, aumentamos a capacidade instalada em 20%, chegando a 240 mil big bags. As obras para isso serão concluídas no terceiro trimestre. Os CDs, nesse sentido, visam nos dar mais flexibilidade para atender aos clientes no futuro”, diz Marques.
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Após o balanço sem surpresas, as ações da Boa Safra operam perto da estabilidade nesta quarta-feira na B3. Em 12 meses, os papéis apresentam valorização de 45%. A companhia está avaliada em R$ 2,4 bilhões na Bolsa.