Se alguém tinha dúvidas sobre o retorno do investimento de Marcos Molina na BRF, o balanço da Marfrig do primeiro trimestre trouxe a resposta: ele começou a se pagar.
A Marfrig, controlada por Molina, apresentou um Ebitda de R$ 2,6 bilhões, quase o dobro do reportado no mesmo período do ano passado e bem acima das estimativas, que apontavam R$ 1,6 bilhão segundo o consenso Bloomberg.
A empresa lucrou R$ 63 milhões no trimestre, um resultado bem melhor que o prejuízo de R$ 634 milhões registado há um ano e também melhor do que as expectativas — os analistas ainda esperavam um prejuízo para este trimestre.
“Os resultados tiveram uma forte contribuição da BRF, que teve o melhor resultado para o primeiro trimestre de sua história”, comemorou o diretor financeiro da Marfrig, Tang David.
A Marfrig é controladora da BRF, com 50% de suas ações. Para consolidar a posição de controle, a empresa investiu cerca de R$ 13,5 bilhões desde 2021, considerando um preço médio próximo de R$ 16 por ação da BRF, que hoje vale cerca de R$ 18.
O forte crescimento do Ebitda da Marfrig contribuiu para uma redução na alavancagem da empresa, de 3,7 vezes para 3,4 vezes em um ano — a dívida líquida subiu 4,8%. A receita consolidada avançou 3,8%, para R$ 30,4 bilhões.
Para se ter uma ideia do peso da BRF no balanço, a dona da Sadia respondeu por 80% do Ebitda consolidado da Marfrig nos três primeiros meses de 2024. Há um ano, esse percentual era de 45%.
O sucesso da gestão de Miguel Gularte, antigo CEO da Marfrig e atual CEO da BRF, na dona da Sadia é inspiração para os negócios de bovinos da companhia na América do Sul.
Entre os mantras de Gularte que fazem escola na Marfrig, estão os benefícios de se ter mais destinos de exportação e maior participação de produtos de maior valor agregado na receita.
Menos China
No primeiro trimestre, a operação da Marfrig na América do Sul teve um crescimento de 7,8% no Ebitda, que somou R$ 290 milhões, com margem de 9,6% —estável na comparação anual, mas acima de suas rivais na região.
“Novas habilitações nos permitiram melhorar a rentabilidade das exportações”, afirmou Rui Mendonça, CEO da Marfrig na América do Sul. Só no primeiro trimestre, a empresa recebeu 27 novas habilitações, que se somaram a outras 36 no ano passado.
Com mais destinos, a companhia reduziu a sua dependência da China, que mostra um enfraquecimento na demanda. O gigante asiático respondeu por 30% da receita da unidade no primeiro trimestre, ante 40% no mesmo período de 2023.
“Acredito que atingimos o botton line de preços para a China. Ela vai ter que aumentar para competir com os mercados que estamos operando”, disse.
Outro ponto destacado pelo executivo é a maior participação dos produtos de maior valor agregado na receita líquida da operação, de 34%, em 2022, para os atuais 39%. “No mercado interno, as marcas premium já representam 40% das nossas vendas de carne desossada”, disse Mendonça.
National Beef
A operação de carne bovina na América do Norte, mais uma vez, apresentou um desempenho acima do mercado devido à estratégia de vender produtos com maior valor agregado, segundo o CEO da National Beef, Tim Klein.
A margem Ebitda ficou em 2,1%, uma queda ante 3,9% no primeiro trimestre de 2023, mas bem acima do relativo breakeven (0,2%) da JBS USA Beef.
O aumento no preço da venda da carne compensou parcialmente a alta de 12% no preço do gado no trimestre, mas não evitou a queda das margens, que devem continuar comprimidas.
A oferta de gado nos EUA seguirá caindo até 2027, quando atingirá um patamar mínimo, afirmou Klein. Somente a partir daí, os preços dos animais devem começar a cair no país, acrescentou.
Até lá, a National Beef precisará gerenciar oferta e demanda (de gado e de carnes) para manter as margens. O retorno do investimento na BRF será mais do que bem-vindo.