Biocombustíveis

3tentos despenca com decisão do governo sobre biodiesel

Santander retira recomendação de compra para as ações da companhia, que deve ter as margens impactadas pela manutenção da mistura do biodiesel ao diesel em 14%

Fábrica da 3tentos em Vera, em Mato Grosso

A decisão do governo de adiar o aumento da mistura do biodiesel ao diesel fóssil caiu como uma bomba ontem entre os processadores de soja. Hoje, o impacto acontece na Bolsa: as ações da 3tentos caem 7%, influenciadas pelas primeiras estimativas sobre o impacto da decisão nos resultados.

Depois da manutenção da mistura em 14% (o aumento para 15% estava programado para 1º de março), o Santander retirou a recomendação de compra para as ações da 3tentos e reduziu o preço-alvo de R$ 19 para R$ 18 — ainda assim representando um upside de 15% em relação ao fechamento de ontem.

“O biodiesel tem sido a razão número um para as altas margens de esmagamento no Brasil, já que representa 70% da demanda por óleo de soja. Agora, nós esperamos que os preços caiam em relação ao pico de novembro, quando distribuidoras aumentaram estoques além do aumento da taxa de mistura”, escrevem os analistas Guilherme Palhares e Laura Hirata.

No terceiro trimestre, a companhia da família Dumoncel fez uma margem de R$ 621 por tonelada, um resultado recorde, apoiado na valorização dos preços do biodiesel, que subiram quase 50% no ano passado. Na época, a empresa atualizou as projeções de produção para o ano, passando de 490 mil metros cúbicos para 560 mil metros cúbicos de biodiesel. 

Para os analistas, o adiamento do aumento da mistura deve reduzir a margem bruta da divisão industrial da 3tentos, dos 23% estimados para o quarto trimestre de 2024 para 18% ao longo de 2025. As contas da equipe do Santander consideram o preço do biodiesel em R$ 5,50 por litro e uma normalização das margens de esmagamento.

E os investimentos?

A iniciativa do governo de atrasar o aumento na taxa de mistura reavivou preocupações a respeito do cumprimento do cronograma de aumento da mistura, que tem a meta de atingir 20% em 2030. Principalmente, cria um ambiente de incertezas para investimentos planejados.

Nas contas dos analistas, seguir com o plano inicial (chegar aos 15% de mistura em 1º de março) poderia aumentar os preços de diesel aos distribuidores em 0,5%. Mesmo sendo um aumento pequeno, poderia pressionar os custos do frete e gerar inflação, uma preocupação central do governo Lula.

Não é a primeira vez que movimentos desse tipo acontecem. Em 2021, o governo Bolsonaro também fez um movimento similar, reduzindo o percentual de mistura de 13% para 10%. “O atraso deste ano, em alguma medida, revive essas preocupações e coloca em questão a execução do ramp-up até 2030, que deve minar a capacidade de expansão do setor”, afirmam os analistas.

Depois de se reunir com representantes da indústria, o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, disse que o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) deverá se reunir em 60 dias para reavaliar a retomada do cronograma de aumento da mistura.

Modelo vencedor

Na visão do Santander, a 3tentos continua tendo um modelo de negócios atrativo dentro do setor. A companhia conseguiu sair vitoriosa em meio à queda dos preços dos insumos agrícolas ao longo do último ano, enquanto diferentes concorrentes amargaram perdas. Esse resultado que veio, justamente, por causa da divisão de indústria. 

Ao atualizar as perspectivas para a companhia com a decisão do governo, os analistas estão agora 3% abaixo do consenso para as estimativas de Ebitda para 2025, somando R$ 1 bilhão. 

As ações da 3tentos valem R$ 14,60 nesta manhã. Apesar da queda de hoje, sobem 53% nos últimos 12 meses. A companhia está avaliada em R$ 7,3 bilhões na B3.

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