Uma anomalia. Assim os analistas Leonardo Correa e Caio Greiner, do BTG Pactual, descrevem o valuation da Suzano, uma companhia que bate o consenso dos analistas por larga margem com fortes resultados operacionais.
Castigadas pelas preocupações dos investidores com a já descartada aquisição da Internacional Paper, as ações da gigante de celulose estão tão baratas que a direção abriu um programa de recompra que pode movimentar R$ 2,2 bilhões (40 milhões de ações, o equivalente a 6,3% do free float). O programa vem em seguida do encerramento de outro, exatamente do mesmo tamanho.
Para os analistas do BTG, as ações da Suzano estão em um patamar injustificado diante dos resultados que a companhia da família Feffer vem entregando. Atualmente, as ações da Suzano negociam a um EV/Ebitda próximo de 5 vezes, abaixo do múltiplo considerado justo, de 7 vezes.
“Acreditamos que o novo programa de recompra de ações, combinado aos bons resultados operacionais (o Projeto Cerrado está em ramp-up), deveriam justificar uma reavaliação das ações da Suzano”, escreveram os analistas do BTG.
Na manhã desta sexta-feira, os executivos da Suzano fizeram questão de demonstrar o histórico de retorno da companhia para os acionistas.
“Nos últimos três anos, devolvemos mais de R$ 10 bilhões entre dividendos, juros sobre capital próprio e recompra de ações”, disse Marcelo Bacci, CFO da Suzano, na teleconferência com analistas.
Além disso, a Suzano também conta com a desvalorização do real a seu favor, turbinando a receita da companhia — a maior parte é dolarizada, fruto das exportações de celulose.
“O câmbio depreciou bem, acho que ninguém tem isso na conta, diferentemente das projeções de um preço de celulose mais baixo. Se não fosse essa questão da IP, com o dólar depreciado, papel estaria fácil entre R$ 60 a R$ 70”, calculou uma fonte que acompanha de perto o papel.
Nesta sexta-feira, as ações da Suzano fecharam a R$ 54,50, com a companhia avaliada em quase R$ 70 bilhões.
O segundo trimestre
No balanço trimestral divulgado ontem à noite, a Suzano surpreendeu com um Ebitda mais de 7% acima do consenso dos analistas. De abril a junho, a companhia da família Feffer chegou aos R$ 6,3 bilhões, aumento de 60% em relação ao mesmo período do ano passado.
Na última linha, a Suzano teve um prejuízo de R$ 3,7 bilhões, mas a maior parte desse efeito é apenas contábil, resultado do impacto da variação cambial sobre as dívidas e o hedge de fluxo de caixa da companhia — que trava os custos em reais.