Se alguém ainda tinha dúvidas sobre a alocação de capital da BRF, a dona da Sadia emitiu um sinal explícito nesta quarta-feira de que a redução da dívida bruta está na ordem do dia.
Num comunicado enviado à CVM no início da noite, a BRF informou que está resgatando pouco mais de R$ 1 bilhão em dívidas, o que vai proporcionar economias com juros, tornando o balanço mais saudável.
A dona da Sadia vai resgatar R$ 735 milhões de um CRA que custava CDI + 1,25% ao ano e vencia originalmente em 2027. O pagamento antecipado das dívidas também envolve R$ 285 milhões de uma debênture que vence em 2026 e possui uma taxa de CDI + 1,45% ao ano e IPCA + 5,5%, a depender da série.
Entre analistas, a redução da dívida bruta sempre foi apontada como um passo necessário para a BRF consolidar o processo de reestruturação liderado por Miguel Gularte.
Depois dos resultados históricos dos últimos trimestres, a dona da Sadia gerou muito caixa e está a caminho de voltar a distribuir dividendos, mas ainda havia quem questionasse a capacidade de tornar os resultados sustentáveis no longo prazo.
Neste momento, o ciclo do frango é amplamente favorável no mundo inteiro, com margens excepcionais, mas isso não vai durar para sempre. Mas quando o ciclo da carne de frango for menos amigável, ter uma dívida bruta menor pode fazer diferença.
No fim de junho, a dívida bruta da BRF somava R$ 22 bilhões. Com R$ 13 bilhões em caixa e um Ebitda recorde, a companhia terminou o primeiro semestre com um índice de alavancagem de apenas 1,14 vez.
Em fevereiro, o diretor financeiro e de relações com investidores da BRF, Fabio Mariano, chegou a indicar, em uma entrevista ao The AgriBiz, que a companhia poderia reduzir a dívida bruta em R$ 3 bilhões. “Não precisamos de R$ 10 bilhões para gerenciar a companhia sob a ótica de caixa de segurança”, disse ele na ocasião.
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Em meio à convenção da área comercial, que aconteceu em Atibaia (SP) e teve a estreia da ginasta Rebeca Andrade como embaixadora, a BRF também anunciou nesta quinta-feira mais uma sinergia com a controladora Marfrig.
A partir de agora, Sadia e Perdigão vão utilizar sua marca e estrutura de distribuição para dar peso ao hambúrguer das marcas Bassi e Montana, que pertencem à Marfrig. A Sadia adotou a Bassi, marca premium, e a Perdigão endossa a Montana.
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Na bolsa, BRF e Marfrig dispararam nesta quarta-feira. A dona da Sadia subiu 4% e a companhia de Marcos Molina, 7,4%. No acumulado do ano, as ações da Marfrig valorizaram 52% e as da dona da Perdigão, 92%.
A BRF vale quase R$ 43 bilhões. Com mais de 50% da dona da Sadia, a Marfrig está avaliada em apenas R$ 13,1 bilhões na B3, o que alguns analistas consideram ser uma porta de entrada barata.