O Brasil pode ter a primeira redução na área de soja em quase 20 anos. A escassez de crédito para o agricultor, aliada ao baixo preço da commodity, pode resultar numa queda de 0,5% na área plantada na safra 2024/25, segundo André Pessôa, fundador da Agroconsult.
Segundo os dados históricos da Conab, a última queda de área aconteceu na safra 2006/07, quando foram plantados 20,7 milhões de hectares com soja, 9% a menos do que na temporada anterior.
Áreas marginais do Cerrado, onde a produtividade é menor e o custo de produção mais alto, são as principais candidatas a não receber a oleaginosa na próxima temporada, disse Pessôa durante coletiva virtual de imprensa com os dados finais do Rally da Safra.
“Alguns produtores podem optar por plantar numa área menor para não precisar reduzir o nível de tecnologia nas demais”, afirmou. Ou seja, eles podem priorizar o plantio em áreas mais produtivas para preservar caixa.
Em outras regiões, como a Bahia, o algodão pode ganhar um pouco da área de soja por apresentar melhor rentabilidade. A SLC Agrícola, por exemplo, já avisou que irá plantar o máximo de algodão que puder em suas propriedades. Já no Rio Grande do Sul, é possível que a soja perca um pouco de área para o arroz, disse Pessôa.
“Os preços continuarão muito desafiadores em 2024/25”, disse. A soja, cotada em aproximadamente US$ 12 por bushel no mercado futuro de Chicago, pode cair abaixo desse patamar dependendo do tamanho da área a ser plantada nos EUA e do comportamento do clima durante o desenvolvimento da safra no Hemisfério Norte, acrescentou.
Atraso nos insumos
A compra de insumos para a próxima safra continua atrasada e começa a levantar preocupações logísticas, comentou André Pessôa. Depois dos problemas com elevados estoques no ano passado, os fabricantes e fornecedores de insumos estão com receio de comprar as matérias-primas. “Ninguém quer acumular”, disse.
Ao mesmo tempo, o produtor encontra dificuldades para ir às compras em função de uma liquidez limitada no mercado. Além disso, muitos agricultores continuam aguardando uma reação dos preços dos grãos, sem olhar para a relação de troca, que está favorável ao produtor.
“Se a carteira de pedidos demorar demais, vamos ter um problema logístico e até indisponibilidade de alguns produtos”, afirmou Pessôa.