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Argentina 'perde' 10 milhões de toneladas de milho, e preço no Brasil pode subir

Produtividade na Argentina é prejudicada por calor e pragas; menor oferta no vizinho pode elevar preços no Brasil

Planta de milho em lavoura na Argentina | Crédito: Schutterstock

As perspectivas para a oferta de milho da Argentina não são mais tão promissoras como pareciam há alguns meses: a colheita deve ficar 10 milhões de toneladas abaixo do esperado no início desta safra.

As estimativas para a produção argentina têm caído constantemente desde fevereiro, quando o país vizinho enfrentou uma forte onda de calor. Na sequência, a incidência de uma praga bastante conhecida dos brasileiros, a cigarrinha, também passou a comprometer a produtividade.

A Bolsa de Cereais de Buenos Aires estima que a safra de milho argentina fique em 46,5 milhões de toneladas — em fevereiro, a projeção era de 56,5 milhões de toneladas. Apesar de crescer quase 50% em relação ao ano passado, quando a Argentina enfrentou uma seca severa, a safra deste ano deve ficar abaixo da média das últimas cinco safras, de 50,2 milhões de toneladas.

Mesmo após o corte de 2 milhões de toneladas na sua previsão para a safra 2023/24, no relatório da semana passada, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) ainda tem um número bem superior à estimativa da Bolsa portenha para a safra argentina: 53 milhões de toneladas.

Espera-se novos cortes nos próximos relatórios do USDA à medida que os impactos da cigarrinha nas lavouras fiquem mais evidentes, mas com poucos efeitos sobre os preços na Bolsa de Chicago, que opera com foco total no clima para o desenvolvimento da safra norte-americana.

Impacto no Brasil

As 10 milhões de toneladas “perdidas” na Argentina resultarão em menores volumes exportados pelo país, o que deve afetar a dinâmica do mercado na América do Sul e pode impactar os preços do grão no Brasil.

“Visualizamos um cenário mais favorável para o preço do milho nos próximos meses”, disse Aurélio Pavinato, CEO da SLC Agrícola, em call de resultados na semana passada. Neste ano, o milho acumula queda de 15%, segundo o indicador Esalq/BM&FBovespa.

Com a forte recuperação na produção de milho este ano, a Argentina tem apresentado maior competitividade na disputa pelo mercado externo ao Brasil, que neste ano deve colher 15% menos do que no ano passado, segundo a Conab. Por isso, uma safra não tão cheia como o inicialmente esperado pode gerar uma demanda adicional pelas exportações brasileiras. Além disso, a Argentina também é um tradicional fornecedor de milho para consumidores no sul do Brasil.

Os problemas enfrentados pelos produtores argentinos com a cigarrinha podem, inclusive, ter efeitos na próxima safra daquele país. Como os agricultores não dominam o manejo contra a praga, espera-se uma redução de área destinada ao cereal em 2024/25.

No primeiro relatório de oferta e demanda da nova safra, divulgado na semana passada, o USDA projetou a colheita de milho na Argentina em 51 milhões de toneladas devido à redução de área. No Brasil, o plantio de milho deve crescer e a produção pode chegar a 127 milhões de toneladas. Para a atual safra, o USDA prevê 122 milhões de toneladas.

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