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Estreia da Camil no Paraguai faz sentido — e pode custar R$ 250 milhões

Analistas veem sentido na transação anunciada na noite de ontem (5), mas esperam com curiosidade por mais detalhes financeiros

Os analistas que cobrem a Camil reagiram positivamente à chegada da companhia ao Paraguai, mesmo com a escassez de informações financeiras divulgadas pela companhia e a necessidade de reduzir o endividamento do grupo.

Ontem à noite, a companhia anunciou que chegou a um acordo para comprar a Rice Paraguai e 80% da Villa Oliva, em uma engenharia que passa primeiro por um investimento direto de Luciano Quartiero, CEO da Camil, que depois vai repassar as operações ao grupo brasileiro.

Estrategicamente, o M&A parece fazer total sentido. A posição do Paraguai no mercado latino-americano ajuda a entender a transação. Hoje, o país é o terceiro maior exportador da região, com uma participação de mercado de 21%, atrás apenas do Brasil (29%) e do Uruguai (24%). A produção anual de arroz do país é de 850 mil toneladas.

Do que é exportado, a maior parte vem para o Brasil e uma pequena parte vai para o Chile. “Aproximadamente 65% das importações brasileiras de arroz vieram do Paraguai no último ano, ou 6% do consumo interno. A Camil pode se beneficiar da originação competitiva, já que a companhia já depende de importações do Paraguai”, afirmou Gustavo Troyano, do Itaú BBA, em relatório divulgado nesta manhã. 

A produção integrada das companhias e a proximidade da fronteira também foram pontos positivos ressaltados por Tiago Harduim, do Citi. Nas contas dele, a companhia paraguaia origina aproximadamente 70 mil toneladas de arroz por ano, ou 5% das vendas de arroz da Camil.

Quanto custou?

No fato relevante divulgado na quinta-feira, a Camil não informou quanto vai desembolsar pelos ativos, mas isso não impediu os analistas de estimarem os investimentos.

A considerar o porte das companhias paraguaias, é factível que o negócio custe cerca de R$ 250 milhões para a Camil, o que está longe de ser um problema para a estrutura de capital da companhia.

“Com base na receita de US$ 50 milhões da Villa Oliva no último ano, mesmo se a Camil pagar um múltiplo de 1 vez o faturamento, suposição que acreditamos que tem grandes chances de ser provável, o acordo só aumentaria a dívida líquida em 10%”, ponderaram os analistas Thiago Duarte e Guilherme Guttilla, do BTG Pactual.

Apesar do investimento módico, alguns analistas questionaram a decisão da Camil de partir para um M&A ao invés de continuar o processo de desalavancagem.  “O deal faz sentido, mas preferia que continuassem desalavancando e reduzindo o endividamento”, disse um analista de um grande banco ao The AgriBiz.

No fim de maio, o índice de alavancagem (medido pela relação entre dívida líquida e Ebitda) estava em 3,3 vezes — bem próximo do limite de 3,5 vezes estipulado nos empréstimos feitos pela Camil.

Para Gustavo Troyano e Bruno Tomazetto, do Itaú BBA, o tamanho da transação é pouco significativo. “Os novos ativos devem contribuir mais de uma forma estratégica do que para os resultados consolidados da companhia por enquanto”, escreveram.

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A engenharia montada para a Camil assumir as operações no Paraguai foi feita para atender à legislação do País, que possui restrições para compra de terras por estrangeiros.

Pelo fato de terras rurais em áreas fronteiriças estarem contempladas na aquisição, a transação foi estruturada na pessoa de Luciano Quartiero — e não numa aquisição entre as empresas.

Ao mercado, a Camil disse que vai ficar apenas com os ativos relacionados à industrialização (processamento, beneficiamento e comercialização de arroz).

Por esse motivo, depois que a transação for concluída, as companhias adquiridas serão reorganizadas para separar a produção industrial das propriedades rurais. Quartiero ficará com as terras e, a Camil, com a parte industrial.

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Na B3, a Camil vale R$ 3,3 bilhões. Nesta sexta-feira, as ações operam em queda de 2%. No acumulado do ano, os papéis sobem 21,5%.

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