Desglobalização

Na briga entre Europa e China, frigoríficos brasileiros têm pouco a ganhar

Ações de BRF, Marfrig, JBS e Minerva estão entre as maiores altas do Ibovespa, mas o mercado pode estar exagerando

Carne suína da China

Sem grandes esperanças com o desempenho da bolsa brasileira, os investidores se agarraram nas ações de frigoríficos nos últimos pregões buscando uma boia de salvação — ou um “porto seguro”, nas palavras do analista Thiago Duarte, do BTG Pactual.

Nesta quarta-feira, as ações de BRF e Marfrig lideram o Ibovespa, com JBS e Minerva também figurando entre as cinco maiores altas do índice. Mas, como é habitual em comportamentos como este, os investidores podem estar exagerando na dose.

É fato que as quatro companhias são beneficiadas pela valorização do dólar, que turbina a rentabilidade das exportações em um momento em que o ciclo da carne de frango já era amplamente favorável (BRF e Seara são as maiores beneficiadas), mas as motivações para a alta vão além da moeda.

Desde ontem, as ações dos frigoríficos ganharam impulso na esteira do conflito comercial entre União Europeia e China. Em retaliação às sobretaxas impostas aos carros elétricos chineses, Pequim abriu uma investigação antidumping contra a carne suína europeia.

A medida foi interpretada pelos investidores como um estímulo às exportações brasileiras de carne suína à China. A realidade, no entanto, é mais complexa dos que a repercussão das ações dos frigoríficos sugere.

“O impacto de curto prazo no comércio de carne suína deve ser mínimo”, escreveu Duarte, em um relatório enviado a clientes nesta quarta-feira.

Ainda que as investigações de Pequim resultem em uma sobretaxa sobre a carne suína europeia, vai levar algum tempo até que uma decisão ocorra. A investigação antitruste pode levar até um ano. Até lá, as exportações podem ocorrer normalmente.

A disposição chinesa em retaliar a União Europeia taxando a carne suína também mostra como a importação da proteína se tornou irrelevante para o país asiático, um indicativo de que o Brasil talvez tenha pouco ganhar. Se houvesse qualquer risco à segurança alimentar, essa hipótese sequer seria considerada.

“Acreditamos que a vontade da China de implementar barreiras comerciais só faz sentido porque a oferta interna aumentou o suficiente para fazer face à demanda, reduzindo a dependência de importações”, argumentou o analista do BTG.

Nos últimos doze meses, as importações chinesas somaram 1,2 milhão de toneladas de carne suína, uma queda de 70% sobre os níveis de 2020. Naquele momento, a epidemia de peste suína africana dizimou o plantel de suínos da China, que precisou recorrer fortemente às importações.

Atualmente, a China produz mais de 90% da carne suína que consome. O país complementa o restante da demanda com importações da União Europeia (48%), Brasil (27%) e Estados Unidos (7%).

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Na B3, as ações da BRF sobem 4,5% Os papéis da Marfrig sobem 4,2%. Minerva avança 3% e JBS, perto de 2%.

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