Executivos da ADM, que investiga práticas contábeis em seu negócio de nutrição, tiveram a sua remuneração variável altamente influenciada pelo desempenho da área. É o que mostra uma reportagem dos jornalistas Tarso Veloso e Anders Melin, repórteres da Bloomberg em Chicago e Malásia.
Entre 2020 e 2021, o conselho de administração da ADM definiu o pagamento de bônus em ações a executivos de acordo com o desempenho da unidade de nutrição, resultando no pagamento de um valor superior a US$ 70 milhões. A problemática área é responsável por apenas 10% das vendas.
Os executivos da ADM recebem cerca de metade de sua remuneração na forma de bônus em ações. Dessa parcela, 50% são pagos anualmente, e o restante é pago três anos depois dependendo do desempenho da empresa, seguindo alguns indicadores específicos.
A parte que está ligada aos indicadores de desempenho é a que chama a atenção, segundo a reportagem.
Durante muito tempo, o conselho da ADM adotou métricas que refletem o seu desempenho financeiro, como o Ebtida, para determinar os bônus em ações. Mas, em 2020, esse indicador foi removido como um dos parâmetros para o pagamento da remuneração variável, adicionando um outro indicador bem mais específico: o crescimento médio do lucro operacional no negócio de nutrição.
A média de crescimento dessa divisão, nos últimos três anos, teria de exceder 10% para que os executivos recebessem o bônus alvo. Se o crescimento da divisão batesse 20%, eles receberiam o dobro das ações.
Objetivo
Na época em que as mudanças foram propostas, a ADM informou que elas ocorreram para enfatizar o foco da empresa em expandir a área de nutrição.
Entre 2020 e 2022, o crescimento médio da unidade foi de 21,4%. Como a empresa também atingiu o gatilho da segunda métrica chave (o retorno sobre o capital investido), os sete principais executivos da ADM receberam ações com valor estimado em US$ 72 milhões em janeiro, mostram dados da empresa compilados pela Bloomberg.
Para o período entre 2022 e 2024, o conselho da ADM substituiu a métrica referente à unidade de nutrição, com o argumento de que trata-se de uma base em que a empresa define expectativas de performance para o ano. Em nove meses encerrados em setembro, o lucro operacional do negócio de nutrição da ADM apresentou queda de 22%.
No domingo (22), a empresa afastou o seu diretor financeiro, cortou a sua estimativa de lucro para 2023 e adiou a divulgação de resultados referente ao quarto trimestre devido às investigações na contabilidade de seu negócio de nutrição, incluindo alguns procedimentos em transações entre divisões da companhia.
A notícia levou a um selloff nas ações da ADM na Bolsa de Nova York. Só na segunda-feira, o papel caiu 24%. Nesta semana, a empresa perdeu quase um quarto em valor de mercado.
Na bolsa, a ADM está avaliada em US$ 27,3 bilhões.