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"Não vai faltar milho" — A aposta da indústria de aves e suínos para 2024

Preço do milho deve subir com provável queda na produção brasileira, mas oferta em países vizinhos deve compensar, diz ABPA

As incertezas em relação à produção brasileira de grãos na safra 2023/24 começaram a elevar os custos de produção de aves e suínos nos últimos meses, mas os produtores e exportadores de proteína animal não veem motivo para alarde.

“Não enxergamos ambiente para uma grande disparada de custos. Não vai faltar milho”, disse Ricardo Santin, presidente da ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal), nesta terça-feira. “O custo vai aumentar. Provavelmente (o preço da saca de milho) não vai ser R$ 50, mas também não vai chegar a R$ 100 como foi no ano passado”, acrescentou.

Para Santin, o aumento na oferta de países vizinhos, como Argentina e Paraguai, pode compensar uma provável queda na produção brasileira do cereal. Além disso, a China deve reduzir a demanda para ração, já que a produção chinesa de aves e suínos deve cair em 2024, e o Brasil tem também a alternativa de importar milho dos Estados Unidos com isenção de tarifa — medida emergencial em vigor desde 2021.

Exportações em 2024

O Brasil deve continuar ocupando espaço deixado pelos seus principais concorrentes no mercado global de aves e suínos, com novos recordes nas exportações no próximo ano, Santin disse a jornalistas.

As exportações de carne de frango podem avançar até 3,9% em 2024, para 5,3 milhões de toneladas, refletindo a abertura de novos mercados. A produção também deve subir em até 3,7%, atingindo 15,35 milhões de toneladas, possibilitando um novo crescimento no consumo per capita de 46 quilos para 47 quilos por habitante/ano.

“Não vemos uma super oferta de frango. Contamos com uma retomada do mercado doméstico” em meio à queda nas taxas de desemprego e aumento na renda, afirmou.

Para o preço médio de exportação de frango, variável que impactou negativamente o balanço dos principais exportadores BRF e JBS neste ano, a expectativa é de recuperação em 2024, pois a maior impacto da influenza aviária no Hemisfério Norte pode ter consequências na oferta mundial.

Santin lembrou que países relevantes na produção e consumo, como o Japão, algumas nações da Europa e até algumas regiões nos Estados Unidos, continuam convivendo com o vírus da influenza aviária, o que pode reduzir o ímpeto de aumentar a produção. Ao mesmo tempo, os protocolos fitossanitários no Brasil têm se mostrado bem-sucedidos, mantendo o País como um fornecedor confiável.

“Estamos há mais de 200 dias com o vírus em aves silvestres, mas ele não chegou à produção comercial. Nenhum país conseguiu ficar tanto tempo com o vírus sem chegar à produção comercial”, disse.

Suínos e ovos

A ABPA também espera bater um novo recorde nas exportações de carne suína no próximo ano, chegando a 1,3 milhão de toneladas. Se confirmado, o volume representará uma alta de 6,6% em relação a 2023. A produção também deve voltar a subir em torno de 1%, para até 5,15 milhões de toneladas, mantendo a oferta interna e consumo per capita estáveis.

“Caminhamos para ultrapassar o Canadá como terceiro maior exportador mundial de carne suína”, disse Santin. A estimativa do USDA para os embarques canadenses de carne suína é de 1,3 milhão de toneladas para 2024.

Para as exportações de ovos, que dispararam 175% até novembro de 2023 influenciadas pelo aumento dos casos de gripe aviária em diversos países, a expectativa para 2024 é de estabilidade em cerca de 26 milhões de toneladas. Já a produção deve continuar aumentando, podendo chegar a 56 bilhões de unidades ante 52,55 bilhões em 2023. Cada brasileiro deve consumir 258 ovos no próximo ano, um crescimento de 6,5%.

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