A Suzano anunciou ontem um corte de 4% sua produção de celulose, num movimento que reflete o tombo dos preços da commodity. A redução se aplica apenas à capacidade produtiva atual da companhia, de 10,9 milhões de toneladas anuais, não incluindo o recém-inaugurado Projeto Cerrado.
Financeiramente, a decisão tem um impacto inexpressivo, mas o que importa neste caso é a mensagem que a decisão traz: a pressão para produzir de forma rentável chegou à líder global em produção de celulose de fibra curta.
Antes da Suzano, os produtores de celulose de menor porte já vinham sofrendo com o tombo nos preços — a commodity estava em US$ 700 por tonelada em abril e hoje estão em US$ 540 por tonelada. “Com um custo de produção maior, empresas menores já estão com Ebitda negativo”, os analistas Leonardo Correa e Marcelo Arazi, do BTG Pactual, em comentário a investidores.
Agora, mesmo para a líder na produção de fibra curta, referência em competitividade na produção, a situação também não é das mais confortáveis. Com os preços nesse patamar, os analistas estimam que o movimento anunciado pode abrir a porta para uma série de cortes no setor, visando rebalancear os preços da commodity.
É uma estratégia que conta com track record positivo. No ano passado, quando a companhia decidiu cortar parte de sua produção, em junho, esse foi um dos principais motivos que acelerou a recuperação de preços.
Na época, os preços da celulose tinham atingido a mínima de US$ 474 por tonelada e, após a decisão da empresa brasileira, entraram em uma trajetória de alta por quase um ano, lembra a equipe de analistas liderada por Caio Ribeiro, do BofA, em relatório divulgado nesta manhã.
“A redução anunciada agora, junto com outras reduções relatadas por produtores de fibra longa na Europa, deve trazer algum alívio para o mercado”, resumem.
Perto das mínimas
Na visão dos analistas do BofA, há alguns indicadores de que o preço da celulose pode estar perto das mínimas, tomando como base o que aconteceu nos últimos ciclos da commodity.
Um deles é o fato de preços de revenda estarem próximos ou acima da celulose importada. Outro ponto tem a ver com os preços da commodity estarem perto do suporte de custo — e, com isso, fábricas já permanentemente fechadas ou com produção reduzida. Por fim, a demanda começa a ensaiar uma retomada, ainda não refletida nos dados.
As perspectivas de um segundo semestre desafiador já haviam sido exploradas em um relatório anterior, do Itaú BBA. Com a entrada do Projeto Cerrado em operação e de uma nova linha de produção da chinesa Liansheng Paper — em meio à demanda mais fraca na Europa e na China —, o fim do ciclo de alta da celulose já era previsto em boa medida.
Nesse cenário, o corte de produção da Suzano é visto pelos analistas do BTG com bons olhos. “A mensagem reforça o compromisso da empresa em otimizar seu ROIC geral”, resumem.
O foco em rentabilidade tem sido um discurso reforçado nas interações recentes com investidores. “Nos últimos três anos, devolvemos mais de R$ 10 bilhões entre dividendos, juros sobre capital próprio e recompra de ações”, disse Marcelo Bacci, CFO da Suzano, na última teleconferência de resultados.
Até agora, os preços mais baixos da celulose ainda não apareceram no balanço da Suzano. No segundo trimestre, a companhia entregou um Ebitda 60% maior do que o do mesmo período do ano passado, de R$ 6,3 bilhões, ainda 7% acima das estimativas do consenso de analistas.