Se no começo da safra o atraso das chuvas preocupava produtores, hoje dá para dizer que São Pedro colaborou — ao menos, no Mato Grosso. Em outubro, as chuvas constantes minimizaram os impactos do plantio mais tardio, ainda que isso tenha acontecido em uma janela curta. Como resultado, a colheita de soja em 2025 deve ser bastante concentrada na primeira metade de fevereiro, elevando os preços de frete, nas projeções do Itaú BBA.
Para chegar a essa conclusão, os analistas da Consultoria Agro tomaram como base o fato de que mais da metade da área do Mato Grosso foi plantada entre 18 de outubro e 1º de novembro. No exercício, eles consideraram um ciclo da soja da ordem de 100 dias, o que trouxe como resultado uma janela de colheita de 26 de janeiro a 16 de fevereiro para a maior parte do Estado.
É um cenário totalmente inverso ao do início deste ano, quando a quebra de safra e as irregularidades climáticas fizeram com que o transporte do grão não tivesse um pico tão pronunciado — ajudando a conter a alta dos fretes.
“No próximo ano, deve acontecer o comportamento oposto, com elevado risco de alta para o frete interno, o que deve impactar negativamente os basis dos grãos”, afirmam os analistas.
O Esalq-Log, centro de estudos em logística ligado à Esalq-USP, estima que os preços de frete rodoviário fiquem, em média, 20% acima do registrado na safra 2023/24, segundo Thiago Guilherme Péra, coordenador do centro.
A colheita, que pode ser a mais concentrada dos últimos cinco anos, deve gerar maior competição por caminhões, aumento no ciclo de transporte com rotas longas de exportação e pressão no sistema de armazenagem de grãos, segundo ele.
Por que o frete está caindo
O preço do frete vem mostrando queda desde o início do segundo semestre. Na rota entre Sorriso (MT) e Paranaguá (PR), o frete rodoviário passou de R$ 473 por tonelada em julho para R$ 386 por tonelada em dezembro, segundo dados do ItaúBBA.
Os preços mais comportados refletem a estabilidade do preço do diesel, em torno de R$ 6 por litro no Mato Grosso, mas também a queda na demanda — principalmente na exportação de milho. Os envios do grão ao exterior estão quase 30% abaixo do mesmo período do ano passado, refletindo uma safra menor e a ausência da China nas compras.
“A perspectiva de uma safra recorde e com uma demanda por frete mais concentrada deve elevar os preços nas principais rotas de escoamento. Porém, os preços do petróleo (e do diesel) mais controlados podem evitar que os valores atinjam os altos patamares observados na safra 2022/23”, afirmam os analistas do ItaúBBA.
Nas estimativas da consultoria, são projetadas exportações da ordem de 105 milhões de toneladas de soja, um volume recorde, mas que também permitiria um crescimento de estoques internos em relação à safra 2023/24.
Acrescentando a essa conta o histórico de exportação das principais commodities que concorrem pela logística (soja, milho, açúcar e farelo de soja) a quantidade de exportações deve alcançar 204,5 milhões de toneladas em 2025, 9,4 milhões de toneladas acima do regisrtrado para este ano.