O debate sobre produção agrícola sustentável chegou a Davos. CEOs de três das maiores empresas de alimentos do mundo participaram, nesta semana, de um debate sobre as mudanças necessárias para que os sistemas de produção existentes se tornem mais sustentáveis. Entre eles, o CEO da PepsiCo, Ramon Laguarta, e o da JBS, Gilberto Tomazoni.
As duas gigantes fazem parte da First Movers Coaliation for Food, uma iniciativa liderada pelo Fórum Econômico Mundial para estimular a demanda por produtos agrícolas de baixo carbono. Lançada na COP28, em Dubai, a coalizão tem o objetivo de criar uma demanda de US$ 20 bilhões em commodities agrícolas provenientes de sistemas sustentáveis até 2030. As empresas signatárias, que totalizavam 20 quando a iniciativa foi anunciada, somam uma receita aproximada de US$ 2 trilhões.
Durante painel sobre os desafios da transição para modelos de produção mais sustentáveis, na última quarta-feira durante o Fórum Econômico Mundial, os executivos disseram que as empresas de alimentos precisam trabalhar para melhorar a vida dos agricultores, levando suporte financeiro e mais conhecimento para ajudá-los a reduzir as emissões de gases de efeito estufa, o uso de água e de químicos.
A agricultura é responsável por cerca de 30% das emissões globais de gases de efeito estufa, por 70% do consumo de água doce e de 80% do desmatamento em áreas tropicais, segundo dados apresentados durante o Fórum.
“Precisamos colocar os agricultores no centro”, disse o CEO da PepsiCo. “O maior risco que corremos é que a próxima geração de agricultores não queira produzir. Se eles tiverem uma vida melhor, isso vai justificar que permaneçam na agricultura. Isso já é um grande facilitador para ter comida suficiente para todos”, afirmou Laguarta.
Sentado ao lado, Tomazoni concordou. Segundo ele, melhorar a vida do produtor significa aumentar o suporte financeiro e técnico. Dessa forma, será possível elevar a produtividade e a renda dos pequenos agricultores. Ele citou como exemplo o trabalho que o Fundo JBS pela Amazônia tem feito com pequenos produtores na região.
“As pessoas são a solução e sabemos como fazer. Só precisamos acelerar a adoção das melhores práticas”, acrescentou. “A agricultura recebe apenas 4% dos recursos financeiros destinados. Se isso mudar para 40%, podemos promover uma grande mudança”.
“O problema é muito grande para resolvê-lo sozinho. Precisamos unir forças”, acrescentou Tomazoni em referência à necessidade de um maior envolvimento dos governos.
Também presente no painel, Axtom Salim, diretor e membro do conselho da gigante indonésia Indofood, disse que a empresa atua em conjunto com o governo do país para promover práticas agrícolas mais sustentáveis.
“Temos fornecedores de batatas na Indonésia e nós damos a eles boas sementes, ensinamos boas práticas agrícolas e, com isso, eles alcançam melhores produtividades, menor uso de fertilizantes e maior renda”, disse o executivo da Indofood, grupo com receita próxima de US$ 4 bilhões e que atua na produção agrícola, fabricação de alimentos com marca e valor agregado e na distribuição.