Protecionismo?

Europa não resiste à pressão e vai adiar lei antidesmatamento

No Brasil, alguns frigoríficos já vinham trabalhando com a possibilidade do adiamento da lei antidesmatamento

A União Europeia não resistiu às pressões contra a implementação da chamada lei antidesmatamento, um instrumento visto por diversos agentes como uma medida protecionista com argumento ambiental. O bloco caminha para adiar a entrada em vigor da legislação, que estava prevista para 30 de dezembro.

Em uma decisão anunciada nesta quarta-feira, a Comissão Europeia propôs ao Parlamento adiar por um ano a entrada em vigor da lei, que poderia restringir as exportações de commodities como café, soja, carne, óleo de palma e borracha.

Países exportadores como Estados Unidos, Brasil e Índia estavam engajados em adiar a entrada em vigor da lei. Além das críticas em relação ao conteúdo protecionista, muitos apontavam que as certificações necessárias para garantir que os produtos agropecuários estão livres de desmatamento eram praticamente impossível de cumprir.

Ao longo do último mês, o ambiente na própria União Europeia já vinha ficando mais propício ao adiantamento. Na semana passada, 27 associações europeias que representam de produtores rurais a indústrias solicitaram o adiamento. Até mesmo a Alemanha, um dos países mais fortes do bloco, fez pedido semelhante.

No Brasil, alguns frigoríficos já vinham trabalhando com a possibilidade do adiamento e vinham tomando decisões comerciais nesse sentido.

Na semana passada, The AgriBiz conversou com um dos executivos mais importantes da indústria de carne. Ele já havia orientado o time a continuar produzindo carne para a União Europeia, confiante de que a decisão seria adiada.

Pelo tempo entre o abate e a exportação, os frigoríficos precisam de uma decisão imediata, como indicou recentemente três dos mais importantes compradores de gado do país.

“Temos recebido muitos importadores falando que o Brasil vai dar um jeito. O jeito é que não tem jeito. Ou vão pagar mais caro ou vão ficar sem carne. Não dá para fingir de faz de conta. Fazer tudo o que eles estão solicitando vaio trazer impacto grande de custo e está na hora do Brasil levantar essa bandeira”, disparou Eduardo Pedroso, diretor de originação da Friboi, em evento promovido pela Datagro há três semanas.

Se o Parlamento confirmar mesmo o adiantamento, o que é bastante provável, os exportadores terão mais tempo para se adaptar. Ainda assim, nem todos o estão felizes. “Estamos adiando algo que deveria ser modificado ou mesmo abolido”, criticou um empresário.

No Brasil, a ofensiva ambiental europeia é encarada — especialmente no agronegócio e também entre representantes do governo — como uma intrusão na soberania nacional. Ao desconsiderar o Código Florestal, que definiu um marco a partir do qual não se deve mais desmatar, os europeus estariam se metendo onde não devem.

Os ambientalistas, por outro lado, certamente saíram frustrados com adiamento europeu.

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